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Os Sapatos no Arame
lmer correu pela Grønlandsleiret abaixo com uma saudação rápida e
um sorriso aos clientes e empregados das lojas vizinhas. Estava aborrecido.
Voltara a ficar sem troco e fora obrigado a pendurar o letreiro do VOLTO JÁ na
porta, enquanto ia até ao banco.
Abriu a porta, entrou no banco, cantarolou o seu habitual «Bom dia» e
apressou-se a tirar uma senha. Ninguém respondeu, mas já estava habituado a
isso – trabalhavam ali apenas noruegueses brancos. Havia um homem que
parecia estar a arranjar a caixa ATM e os únicos clientes que viu estavam
junto da montra que dava para a rua. O lugar estava invulgarmente silencioso.
Estaria a passar-se alguma coisa de que ele não se apercebera?
– Vinte – chamou uma voz feminina. Elmer olhou para o número da sua
senha. Era o 51, mas como não havia ninguém à sua frente aproximou-se da
caixa da qual viera a voz da mulher.
– Olá, Catherine, minha querida – disse, a espreitar inquiridor pela
divisória. – Cinco rolos de moedas de cinco e de um, por favor.
– Vinte e um.
Olhou surpreendido para Catherine Schøyen e só nessa altura reparou no
homem ao lado dela. À primeira vista pensou que era um negro, mas depois
viu que o homem usava uma balaclava preta. O cano da AG3 desviou-se dela
e deteve-se em Elmer.
– Vinte e dois – chamou Catherine numa voz enlatada.
– Porquê aqui? – perguntou Halvorsen, a olhar para o fiorde de Oslo abaixo
deles. O vento sacudia-lhe a franja para trás e para a frente. Tinham demorado
menos de cinco minutos a chegarem ali, deixando para trás os fumos dos
tubos de escape de Grønland e subindo até Ekeberg, que sobressaía como uma
torre de vigia verde na zona sudeste de Oslo. Tinham encontrado um banco
debaixo das árvores com vista para um belo e antigo edifício de tijolo a que
Harry ainda chamava Escola de Marinheiros, apesar de agora dar cursos de
gestão empresarial.