Harry.
– Como não temos nada que possamos usar num tribunal, temos de
aumentar a pressão para encontrarmos algo que possamos utilizar.
– Não o devíamos levar para interrogatório, dar-lhe uma boa cadeira, servir-
lhe um café e gravar tudo numa cassete?
– Não. Não precisamos de um monte de mentiras gravadas, quando não
podemos usar aquilo que sabemos para provar que ele é um mentiroso. Aquilo
de que precisamos é de um aliado. Alguém que o possa expor em nosso
nome.
– E quem é essa pessoa?
– Vigdis Albu.
– Ah. E como...?
– Se Arne Albu foi infiel, decerto que Vigdis vai querer aprofundar a
questão. E as hipóteses dizem-nos que ela está sentada em cima da
informação de que nós precisamos. E sabemos algumas coisas que a podem
ajudar a descobrir ainda mais.
Halvorsen inclinou o retrovisor para não ficar encadeado pelos faróis do
camião, que se encontrava colado à sua traseira.
– Tens a certeza de que essa é uma ideia inteligente, Harry?
– Não. Sabes o que é uma palíndroma?
– Não faço a mínima ideia.
– É uma palavra ou palavras que podem ser lidas da frente para trás e de
trás para a frente. Olha para o camião no retrovisor. AMOROMA. É a mesma
palavra, seja lida de que maneira for.
Halvorsen estava prestes a falar, mas pensou melhor e limitou-se a sacudir a
cabeça desesperado.
– Leva-me ao Schrøder’s – disse Harry.
O ar estava denso do suor, fumo de cigarros, roupa ensopada de chuva e
pedidos de cerveja gritados sobre as mesas.
Beate Lønn estava sentada à mesma mesa de Aune. Era tão difícil de
detectar como uma zebra numa vacaria.
– Estás há muito tempo à espera? – perguntou Harry.