– Não muito – mentiu ela.
Tinha à sua frente uma caneca de cerveja grande, intacta e já sem gás.
Seguiu o olhar dele e obedientemente levantou-a.
– Aqui não é obrigatório beber-se álcool – disse Harry, e trocou um olhar
com Maja. – Apenas parece que é.
– De facto, não é assim tão mau. – Beate bebeu um pequeno gole. – O meu
pai dizia que não confiava em pessoas que não bebiam cerveja.
A cafeteira e a chávena surgiram em frente de Harry. Beate corou até à raiz
do cabelo.
– Eu costumava beber cerveja – disse Harry. – Tive de parar.
Beate estudou a toalha de mesa.
– É o único vício de que me livrei – disse Harry. – Fumo, minto e guardo
rancor. – Levantou a chávena num brinde. – Quais são os teus vícios, Lønn?
Para além de seres uma toxicodependente de vídeos e de te lembrares de
todos os rostos que já viste na vida?
– Não há muito mais que isso. – Ela levantou a caneca. – Para além do
espasmo de Setesdal.
– É grave?
– Bastante. Na verdade, chama-se doença de Huntingdon. É hereditária e
era normal em Setesdal.
– Porquê aí de todos os lugares?
– É um... vale estreito cercado por montanhas elevadas e rochosas. E muito
longe de lado nenhum.
– Estou a ver.
– Tanto o meu pai como a minha mãe são de Setesdal, e a princípio a minha
mãe não queria casar com o meu pai porque pensava que ele tinha uma tia
com o espasmo de Setesdal. A minha tia começava de repente a sacudir os
braços, e as pessoas mantinham-se à distância.
– E agora és tu que o tens?
Beate sorriu.
– O meu pai costumava gozar com a minha mãe acerca disso quando eu era
miúda. Porque quando o meu pai e eu jogávamos à sardinha, eu era tão rápida
e atingia-o com tanta força que ele pensava que só podia ser o espasmo de