Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

Setesdal. Eu achava aquilo tão divertido que só desejava... ter o espasmo,
mas um dia a minha mãe disse-me que se pode morrer da doença de
Huntingdon. – Começou a brincar com a caneca. – E nesse mesmo Verão
aprendi o que significava a morte.


Harry acenou com a cabeça a um velho marinheiro numa mesa vizinha, que
não lhe retribuiu o cumprimento. Pigarreou.


– E quanto a rancores? Também os tens?
Beate ergueu os olhos para ele.
– O que é que queres dizer com isso?
Harry encolheu os ombros.
– Olha à tua volta. A humanidade não pode sobreviver sem eles. Vingança e
retribuição. É essa a força condutora do anão que é maltratado na escola e que
mais tarde se transforma em multimilionário, e do assaltante de bancos que
pensa que foi enganado pela sociedade. E olha para nós. A vingança ardente
da sociedade disfarçada de retribuição fria e racional. Essa é a nossa
profissão, não é?


– É assim que tem de ser – disse ela, evitando o olhar de Harry. – A
sociedade não funcionaria sem castigo.


– Sim, claro, mas é mais que isso, não é? Catarse. A vingança limpa.
Aristóteles escreveu que a alma humana é purgada pelo medo e compaixão
que a tragédia evoca. É um pensamento assustador saber que podemos
satisfazer o desejo mais íntimo da alma por intermédio da tragédia da
vingança, não é?


– Não li muita filosofia. – Levantou a caneca e bebeu uma longa golada.
Harry baixou a cabeça.
– Eu também não. Só te estou a tentar impressionar. Alguma novidade?
– Primeiro as más notícias – disse ela. – A reconstituição do rosto atrás da
máscara falhou. Apenas um nariz e o delineado de uma cabeça.


– E as boas notícias?
– A mulher que serviu de refém no assalto de Grønlandsleiret acha que é
capaz de reconhecer a voz do assaltante. Disse que era tão invulgarmente alta
que quase pensou ser de mulher.


–   Hm. Mais    alguma  coisa?
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