ambos. Até o pode ter chantageado. Não porque fosse ambiciosa, mas porque
era pobre. E porque estava a terminar uma obra de arte que pensava iria
coroar o trabalho de uma vida, e precisava de dinheiro para a lançar.
Pressionou-o cada vez mais, e, uma noite, ele decidiu fazer-lhe uma visita.
Não foi numa noite qualquer, foi numa noite em especial, porque ela lhe
dissera que uma sua antiga paixoneta iria visitá-la. Porque é que ela lho disse?
Talvez para lhe fazer ciúmes? Ou para lhe mostrar que havia outros homens
que a desejavam? Ele não era ciumento. Ficou entusiasmado. Aquela era uma
oportunidade maravilhosa.
Harry olhou para Raskol. Ele cruzara os braços e observava Harry.
- Ele esperou no exterior. Esperou e esperou, a olhar as luzes no
apartamento dela. Pouco antes da meia-noite, a visita saiu. Um homem
arbitrário que, se alguma vez tivesse de chegar a esse ponto, não teria um
álibi, e que era possível que outros confirmassem que passara toda a noite
com Anna. Se mais ninguém o fizesse, pelo menos a vizinha vigilante teria
ouvido aquele homem a tocar-lhe à campainha naquela noite. No entanto, o
nosso homem não tocou. O nosso homem entrou com a chave. Subiu as
escadas, sorrateiro, e abriu a porta do apartamento dela.
Harry pegou no rei negro e comparou-o com o branco. Se não se olhasse
com muita atenção, poder-se-ia pensar que eram idênticos.
– A arma não está registada. Podia ser de Anna; podia ser dele. Eu não sei
exactamente o que aconteceu no apartamento e é provável que o mundo
nunca o venha a saber, já que ela morreu. Do ponto de vista da polícia, é um
caso fechado e encerrado: suicídio.
- Eu? Ponto de vista da polícia? – Raskol acariciou a barbicha. – Porque
não nós e o nosso ponto de vista ? Está-me a tentar dizer, inspector, que quanto
a isto está a trabalhar sozinho?
– O que é que quer dizer?
– Sabe muito bem o que quero dizer. O truque de mandar sair a sua parceira
para me fazer acreditar que isto é entre nós dois, eu compreendo isso, mas...
– Pressionou as palmas das mãos, uma contra a outra. – Embora isso seja
possível. Mais alguém sabe aquilo que você sabe?
Harry sacudiu a cabeça.
– Então, o que é que pretende? Dinheiro?
– Não.