– Se eu fosse a si não seria assim tão rápido, inspector. Ainda não tive a
oportunidade de lhe dizer o valor que essa informação tem para mim.
Podemos estar a falar de muito dinheiro. Se puder provar aquilo que está a
dizer. E o castigo da parte culpada pode ser efectuado, digamos, de um modo
privado e sem qualquer interferência do Estado.
– Não é essa a questão – disse Harry, esperando que a transpiração na testa
não fosse visível. – A questão é o valor que a sua informação tem para mim.
– O que é que está a sugerir, Spiuni?
– O que estou a sugerir – respondeu Harry, a segurar os dois reis na mesma
mão – é uma troca. Diz-me quem é o Executor e eu consigo-lhe provas contra
o homem que matou Anna.
Raskol soltou uma gargalhada.
– Aí está. Agora pode ir, Spiuni.
– Pense nisso, Raskol.
– Não vale a pena. Eu confio em pessoas que andam atrás de dinheiro. Não
confio em cruzados.
Avaliaram-se. A lâmpada fluorescente crepitou. Harry assentiu, voltou a
colocar as peças de xadrez no seu lugar, levantou-se, dirigiu-se à porta e bateu
ruidosamente.
– Devia ter gostado muito dela – disse, de costas viradas para Raskol. – O
apartamento em Sorgenfrigata estava registado em seu nome, e eu sei
exactamente como Anna estava falida.
– Oh?
– Como o apartamento é seu, pedi ao Comité Habitacional para lhe enviar a
chave. Hoje, um estafeta vai trazer-lha. Sugiro que a compare com aquela que
lhe dei.
– Porquê?
– O apartamento de Anna tinha três chaves. Anna tinha uma, o electricista
tinha a segunda. Eu encontrei esta no chalé do homem de quem estive a falar.
Numa gaveta da mesa-de-cabeceira. É a terceira e última chave. A única que
pode ter sido usada, se Anna foi assassinada.
Ouviram passos no exterior da porta.
– E se isso servir para aumentar a minha credibilidade – disse Harry –,
estou apenas a tentar salvar a pele.