– Uma paranóia absolutamente normal – fora o que Aune lhe chamara. – Eu
sinto o mesmo. Acho que todos os psicólogos andam atrás de mim, quando na
realidade é provável que sejam apenas metade deles.
Harry esquadrinhou a sala e viu Beate com o seu almoço pré-embalado e as
costas de alguém que lhe estava a fazer companhia. Tentou não reparar nos
olhares que lhe lançavam das mesas pelas quais passava. Alguém murmurou
um «Olá», mas Harry presumiu que fora dito de modo irónico e não
respondeu.
– Estou a incomodar?
Beate ergueu os olhos para Harry, como se ele a tivesse apanhado em
flagrante.
– De modo nenhum – disse uma voz familiar, ao levantar-se. – Ia-me
mesmo agora embora.
Os pêlos na nuca de Harry ergueram-se – não por princípio, mas por
instinto.
– Encontramo-nos então esta noite. – Tom Waaler sorriu, um raio branco
em comparação com o rosto beterraba de Beate. Pegou no tabuleiro, acenou
com a cabeça a Harry e afastou-se. Beate baixou os olhos para o seu queijo de
cabra, ao mesmo tempo que tentava esboçar uma expressão sensata quando
Harry se sentou.
– Então?
– Então o quê? – guinchou ela, exagerando a sua incompreensão.
– Deixaste uma mensagem no meu gravador a dizeres que tinhas algo de
novo – disse Harry. – Presumi que fosse urgente.
– Consegui solucioná-lo. – Beate bebeu um pouco do leite do copo à sua
frente. – Os desenhos que o programa fez do rosto do Executor. Fartei-me de
vasculhar a cabeça para ver quem é que eles me recordavam.
– Estás a falar dos prints que me mostraste? Não há ali nada nem de longe
parecido com um rosto, apenas linhas aleatórias num papel.
– Apesar disso.
Harry encolheu os ombros.
– Tu é que tens a fusiform gyrus . Então diz lá.
– Ontem à noite lembrei-me de quem ele me fazia lembrar. – Bebeu outra
golada e limpou o bigode de leite com o guardanapo.