movia-se, e os vasos sanguíneos das têmporas e testa sobressaíam. Era
desespero.
– Percebeste o que fizeste? – Quase sussurrou, já sem fazer qualquer
tentativa para sorrir. – Ela deixou-me. Ela... pegou nas crianças e foi-se
embora. Por causa de um caso desprezível. Anna já não significava nada para
mim.
Arne Albu aproximou-se de Harry.
– Anna e eu conhecemo-nos quando um amigo me estava a mostrar a sua
galeria, e por acaso estava a decorrer ali uma exposição com obras dela.
Comprei-lhe dois quadros, nem sei bem porquê. Disse que eram para o
escritório. Claro que nunca os pendurei em lado nenhum. No dia seguinte
quando fui buscar os quadros, Anna e eu começámos a conversar e de repente
convidei-a para almoçar. Depois foi um jantar. E duas semanas depois, uma
viagem de fim-de-semana a Berlim. As coisas descontrolaram-se. Eu estava
preso e nem sequer me tentei libertar. Só o tentei fazer quando Vigdis
descobriu o que se estava a passar e ameaçou deixar-me.
A voz dele começara a tremer.
– Jurei a Vigdis que era um caso sem importância, o tipo de paixoneta
idiota que os homens da minha idade por vezes sentem quando encontram
uma mulher jovem. Ela recorda-lhes aquilo que foram outrora. Quando eram
jovens, fortes e independentes. Quando já não se é assim. Ou pelo menos,
quando já não se é independente. Quando tiveres filhos, verás...
A voz quebrou-se-lhe e começou a respirar pesadamente. Enterrou as mãos
nos bolsos do casaco e continuou.
– Anna era uma amante intensa. Chegava ao extremo da anormalidade. Era
como se nunca me pudesse deixar. Tive de me arrancar literalmente das mãos
dela; rasgou um dos meus casacos quando eu estava a sair de sua casa. Acho
que sabes aquilo de que estou a falar. Uma vez contou-me como se sentiu
quando a deixaste. Ficou em pedaços.
Harry estava demasiado surpreendido para responder.
– Mas provavelmente senti pena – prosseguiu Albu. – De outro modo não
teria concordado em me voltar a encontrar com ela. Disse-lhe com toda a
clareza que estava tudo terminado entre nós, mas ela respondeu que só me
queria devolver algumas coisas. Não sabia que estavas prestes a chegar e a
dares cabo de tudo. Que fizesses com que parecesse... que tínhamos
recomeçado onde ficáramos. – Baixou a cabeça. – Vigdis não acredita em