compreendas aquilo que vou fazer agora, mas talvez percebas que
também é possível cansarmo-nos disto. De viver.
Lev
P. S.: Na altura, quando me agradeceu, não achei estranho que o
velho não me tivesse sorrido. No entanto, hoje pensei nisso, Trond.
Talvez ele nem tivesse nada ou ninguém à espera dele. Talvez se tivesse
sentido apenas aliviado por o precipício se ter aberto e pensou que não
teria de ser mesmo ele a fazê-lo.
Beate estava de pé em cima de uma cadeira ao lado do corpo de Lev,
quando Harry voltou a entrar na sala. Esforçava-se por dobrar um dos dedos
de Lev, para o pressionar no interior de uma pequena caixa metálica e
brilhante.
– Raios – disse. – A almofada do carimbo esteve ao sol no hotel, e agora
secou.
– Se não conseguires uma boa impressão digital, teremos de recorrer ao
método dos bombeiros.
– E esse é?
– As pessoas apanhadas num incêndio usam automaticamente as mãos.
Mesmo nos cadáveres carbonizados, a pele na ponta dos dedos pode estar
intacta e conseguem-se usar as impressões para identificar corpos. Às vezes,
por motivos práticos, os bombeiros cortam um dedo e levam-no ao
Departamento Forense.
– Isso chama-se violação do cadáver.
Harry encolheu os ombros.
– Se olhares para a outra mão dele, podes ver que já lhe falta um dedo.
– Estou a ver – disse Beate. – Parece que foi cortado. O que é que poderá
significar?
Harry aproximou-se e acendeu a lanterna.
– Significa que o dedo foi cortado muito depois de ele se ter enforcado.
Alguém pode ter vindo até aqui e viu que ele já fizera o trabalho por eles.
– Quem?
– Bem, nalguns países os ciganos castigam os ladrões cortando-lhes os
dedos – disse Harry. – Isto é, se tiverem roubado ciganos.