– Onde é que está o outro agente, Tom?
– Desculpe?
– Ele não devia estar aqui?
– Que agente, fru Albu?
– Harry. O caso é dele, não é?
O principal motivo por que Tom Waaler subira de patente mais depressa do
que qualquer outro agente desde que entrara para a polícia era por ter
descoberto que ninguém, nem sequer advogados de defesa, investigavam o
modo como ele obtinha provas de culpa dos acusados. O segundo motivo era
por ter antenas sensíveis. Claro que havia ocasiões em que não reagiam como
deviam. Mas nunca deixavam de reagir quando tinham de o fazer. E agora
estavam a reagir.
– Está a referir-se a Harry Hole, fru Albu?
– Pode parar aqui.
Tom Waaler ainda gostava da voz. Estacionou junto do passeio, inclinou-se
para a frente e levantou os olhos para a casa rosa que se erguia na colina. O
sol matinal reflectia-se sobre um objecto com a forma de um animal que se
via no jardim.
– Foi muito simpático da sua parte – disse Vigdis Albu. – Convencer
Sørensen a deixar-me vir embora, e trazer-me a casa.
Waaler esboçou um sorriso afectuoso. Sabia que era afectuoso. Muitas
pessoas diziam que ele se parecia com David Hasselhoff das Marés Vivas ;
tinha o mesmo queixo, corpo e sorriso. Tinha visto as Marés Vivas e sabia o
que queriam dizer.
– Eu é que lhe devia agradecer – disse.
Era verdade. Durante a viagem desde Larkollen ficara a saber várias coisas
muito interessantes. Tais como o facto de Harry Hole andar a tentar encontrar
provas de que o marido dela assassinara Anna Bethsen que, tanto quanto se
lembrava, era a mulher que se suicidara em Sorgenfrigata há algum tempo. O
caso estava fechado. Ele mesmo concluíra que era suicídio e escrevera o
relatório. Então o que é que aquele idiota do Hole andava a tramar? Estaria a
tentar vingar-se de antigas hostilidades? Estaria Hole a tentar provar que
Anna Bethsen fora vítima de um acto criminoso para o comprometer – a ele,
Tom Waaler? Seria mesmo algo que aquele bêbedo louco faria, mas não fazia
muito sentido que Hole estivesse a despender tanta energia num caso que, no