Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

Harry fez um sinal com a cabeça a Ali, que estava a tentar enfiar um trenó
pela porta da cave.


– Amo-te. Estás aí? Amo-te! Estou?
Harry ergueu os olhos da chamada que se desligara com uma expressão
espantada, e reparou no sorriso radioso do seu vizinho paquistanês.


– Sim, sim, a ti também, Ali – murmurou enquanto voltava a marcar
penosamente o número de Rakel.


– Registo de chamadas – disse Ali.
– O quê?
– Nada. Diz-me se queres alugar a tua arrecadação da cave. Não a usas
muito, pois não?


– Tenho uma arrecadação na cave?
Ali rolou os olhos.
– Há quanto tempo vives aqui, Harry?
– Eu disse... amo-te.
Ali lançou a Harry um olhar perscrutador. Harry acenou-lhe um adeus, e
fez-lhe sinal para indicar que conseguira a chamada. Subiu as escadas a correr
com a chave à sua frente, como se fosse uma varinha de condão.


– Pronto, agora podemos falar – disse Harry ao passar pela porta e entrar no
seu apartamento de duas assoalhadas escassamente mobilado, comprado por
uma ninharia algures nos anos 90 quando o mercado imobiliário atingira o
fundo. Era frequente pensar que aquele apartamento gastara a sua quota-parte
de sorte para o resto da sua vida.


– Quem me dera que estivesses aqui connosco, Harry. Oleg também tem
saudades tuas.


– Ele disse isso?
– Não precisa de o dizer. Quanto a isso, vocês são muito parecidos.
– Oh tu, acabei de dizer que te amo. Três vezes. Com o vizinho a ouvir.
Sabes o que esse tipo de coisa faz a um homem?


Rakel riu-se. Harry adorava ouvi-la rir, adorara ouvi-la desde a primeira vez
que ela o fizera. Soubera instintivamente que faria qualquer coisa para a ouvir
com maior frequência. De preferência todos os dias.

Free download pdf