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ão havia uma nuvem, mas o vento era cortante e no céu erguia-se um
sol pálido que não emanava muito calor. Harry e Aune tinham levantado o
colarinho dos seus casacos e caminhavam ao lado um do outro enquanto
desciam a avenida de bétulas, já despidas das suas folhas e preparadas para o
Inverno.
– Disse à minha mulher como estavas feliz quando me contaste que Rakel e
Oleg iam regressar a casa – disse Aune. – Ela perguntou se isso significa que
em breve vão viver os três juntos.
Harry respondeu com um sorriso.
– Ela tem mais que espaço suficiente naquela casa – sondou-o Aune.
– Há espaço suficiente na casa – disse Harry. – Manda os meus
cumprimentos a Karoline e cita-lhe Ola Bauer.
– «Mudei-me para a rua despreocupada?»
– «Mas isso também não me ajudou muito.»
Riram-se.
– De qualquer maneira, neste momento a minha mente está demasiado
absorvida pelo caso – disse Harry.
– Ah, sim, o caso – disse Aune. – Li todos os relatórios, como me pediste.
Bizarro. Verdadeiramente bizarro. Acordas no teu apartamento, não te
lembras de nada e bang , és apanhado neste jogo de Alf Gunnerud. Como é
natural, é um pouco traiçoeiro estabelecer um diagnóstico psicológico post-
mortem , mas ele é na verdade um caso interessante. Sem sombra de dúvida
uma alma muito inteligente e criativa. Até quase artística. Concebeu um plano
de mestre. Há uma ou duas coisas a respeito das quais me questionei. Li as
cópias dos e-mails que ele te enviou. Ele referiu-se ao facto de teres
desmaiado. Isso deve significar que te viu sair do apartamento num estado
embriagado e calculou que não te irias lembrar de nada no dia seguinte.
– É isso que acontece quando ajudam um homem a entrar para um táxi.
Presumo que devia estar na rua, a vigiar-me, tal como escreveu no seu e-mail