– Hm. Leste os e-mails?
– Li. – Aune assentiu. – Em retrospectiva, podes ver que, apesar de
seguirem o desenrolar dos acontecimentos, também são vagos. Mas não o iria
parecer à pessoa apanhada no meio desses mesmos acontecimentos. Iria
parecer que o emissor estava permanentemente bem-informado e online . Mas
ele podia fazer isso porque de muitas maneiras era ele que estava a dirigir
todo o espectáculo.
– Bem, ainda não sabemos se foi Alf Gunnerud que orquestrou o homicídio
de Arne Albu. Um colega da loja disse que estava com ele no Gamle Major, a
beber cerveja à hora em que ele foi assassinado.
Aune esfregou as mãos. Harry não percebeu se devido ao vento frio, ou
porque estava a gozar o raciocínio de tantos resultados logicamente possíveis
ou impossíveis.
– Vamos presumir que Gunnerud não matou Albu – disse o psicólogo. – De
que é que estaria à espera ao apontar-te na sua direcção? Que Albu fosse
condenado? Mas assim tu ficarias livre. E vice-versa. Dois homens não
podem ser condenados pelo mesmo homicídio.
– Certo – disse Harry. – Tens de te perguntar qual era a coisa mais
importante da vida de Albu.
– Excelente – replicou Aune. – Um pai de três filhos que voluntariamente,
ou não, desiste das suas ambições profissionais. Presumo que a família.
– E o que é que Gunnerud conseguiu ao revelar, ou antes ao permitir que eu
descobrisse que Arne Albu continuava a encontrar-se com Anna?
– A mulher pegou nos filhos e deixou-o.
– «Perder a própria vida não é a pior coisa que nos pode acontecer. O pior é
perder o nosso motivo para estarmos vivos.»
– Boa citação. – Aune esboçou um sinal de agrado. – Quem disse isso?
– Esqueci-me – disse Harry.
– Mas a próxima pergunta que tens de te colocar é o que é que ele te queria
tirar, Harry? O que faz com que a tua vida valha a pena ser vivida?
Tinham chegado ao edifício onde Anna vivera. Harry brincou com as
chaves durante muito tempo.
– Então? – perguntou Aune.
– Tudo que Gunnerud provavelmente sabia a meu respeito foi aquilo que