Quartel-general da Polícia e Botsen. Harry tinha uma mensagem de Weber à
espera no gabinete. Confirmava as suspeitas de Harry, as mesmas suspeitas
que o tinham feito ver os e-mails sob uma nova luz. Apesar disso, a
mensagem sucinta de Weber foi um choque. Uma espécie de choque
esperado.
Harry passou o resto do dia ao telefone, e a correr até à máquina de fax . Nos
intervalos meditava, colocava mentalmente um bloco em cima do outro e
tentava não pensar naquilo que estava a procurar. Mas era tudo demasiado
óbvio. Aquela montanha russa podia subir, cair, torcer-se e virar-se tanto
quanto quisesse, mas era igual às outras montanhas russas – acabava onde
começara.
Depois de a sua meditação ter terminado e grande parte da imagem estar
clarificada, recostou-se na cadeira. Não sentia nenhum triunfo, apenas uma
espécie de vazio.
Rakel não lhe fez perguntas quando lhe ligou a dizer para não esperar por
ele. Depois subiu as escadas e dirigiu-se ao refeitório, e daí ao terraço no
telhado onde havia alguns fumadores de pé a tremer. As luzes da cidade
piscavam abaixo deles na penumbra de princípio de tarde. Harry acendeu um
cigarro, passou a mão ao longo da parede e fez uma bola de neve. Apertou-a.
Cada vez com mais força. Bateu-a entre as mãos, esmagou-a até o gelo
derretido lhe escorrer entre os dedos. Depois atirou-a em direcção à cidade.
Seguiu com os olhos a bola de neve brilhante enquanto esta caía, cada vez
mais depressa até desaparecer no chão de um cinzento-esbranquiçado.
– Havia um rapaz na minha turma chamado Ludwig Alexander – disse em
voz alta.
Os fumadores bateram os pés e olharam para o inspector.
– Tinha problemas de dicção e chamavam-lhe Kebab. Porque uma vez,
numa aula de inglês, foi suficientemente estúpido para dizer ao professor que
gostava da palavra barbecue soletrada como BBQ, porque isso queria dizer
kebab ao contrário. Quando a neve chegava, havia uma guerra de bolas
durante todos os intervalos. Kebab não se queria juntar às guerras, mas
forçámo-lo a juntar-se. Foi a única coisa em que o deixámos juntar-se a nós.
Como carne para canhão. Era tão mau a atirar bolas que a única coisa que
conseguia eram uns arremessos fracos. A outra turma tinha Roar, um miúdo
gordo que jogava andebol em Oppsal. Costumava desviar as bolas de Kebab
com a cabeça só para se divertir, e depois deixá-lo cheio de nódoas negras
com os seus lances certeiros. Um dia, Kebab fez uma bola de neve com uma