pedra grande no interior e atirou-a tão alto quanto lhe foi possível. Roar saltou
com um sorriso e cabeceou-a. O som foi semelhante ao de uma pedra a bater
em águas poucas fundas, duro e simultaneamente suave. Foi a única vez em
que vi uma ambulância no pátio da escola.
Harry sugou o cigarro com força.
– Na sala de professores, discutiram durante dias se Kebab devia ser
castigado. Afinal, ele não atirara a bola de neve a ninguém, por isso a questão
era: Devia alguém ser castigado por não mostrar qualquer consideração em
relação a um idiota que se porta como um idiota?
Harry apagou o cigarro e voltou a entrar.
Passava das quatro e meia. O vento frio aumentara de intensidade na
extensão aberta entre Akerselva e a estação de metro de Grønlands torv.
Crianças em idade escolar e reformados davam passagem a mulheres e
homens de gravata e rostos fechados que se apressavam para casa, depois de
saírem dos seus escritórios. Harry chocou contra um deles ao descer a correr
as escadas da estação, e uma imprecação seguiu-o ecoando pelo túnel. Parou
em frente de uma janela entre as casas de banho. Era a mesma mulher idosa
que estivera ali sentada da última vez.
– Tenho de falar imediatamente com Simon.
Os seus olhos castanhos e calmos observaram-no.
– Não está em Tøyen – disse Harry. – Partiram todos.
A mulher encolheu os ombros, espantada.
– Diga-lhe que é o Harry.
Ela sacudiu a cabeça e mandou-o embora.
Harry inclinou-se contra o vidro que os separava.
– Diga-lhe que é o spiuni gjerman.
Simon conduziu pela Enebakkveien abaixo em vez de seguir pelo longo
túnel de Ekeberg.
– Não gosto de túneis, percebes? – explicou enquanto rastejavam a passo de
caracol pela encosta acima, devido à hora de ponta da tarde.
– Então os dois irmãos que fugiram para a Noruega e cresceram juntos
numa caravana zangaram-se por estarem apaixonados pela mesma rapariga? –
perguntou Harry.