– Então de quem estava a falar?
– De Trond. Estive sempre a falar dele. Disse que estava completamente
branco. Trond não suporta ver sangue.
O vento estava a aumentar. A ocidente, nuvens negras semelhantes a
pipocas começavam a amontoar-se no céu azul. As rajadas arrepiavam as
poças de barro vermelho do court de ténis e apagavam a imagem reflectida de
Trond Grette, que levantou a bola para outro serviço.
– Olá – disse Trond, a bater numa bola que girou suavemente no ar. Uma
pequena nuvem de giz branco ergueu-se nas traseiras da caixa de serviço e foi
de imediato levada pelo vento enquanto a bola, alta e sem possibilidade de
retorno, passava pelo oponente imaginário do outro lado da rede.
Trond olhou Harry e Beate no exterior da vedação metálica. Vestia um pólo
branco, calções brancos, meias brancas e ténis brancos.
– Perfeito, não foi? – Sorriu.
– Quase – disse Harry.
Trond pareceu resplandecer ainda mais, escudou os olhos e perscrutou o
céu.
– Parece que está a ficar enublado. Em que é que os posso ajudar?
– Pode acompanhar-nos até ao Quartel-general da Polícia – disse Harry.
– O Quartel-general da Polícia? – Olhou-os surpreendido. Isto é, tentou
parecer surpreendido. Os olhos escancarados eram um pouco teatrais e havia
algo de afectado na sua voz que ainda não tinham ouvido antes, quando o
tinham interrogado. A entoação era demasiado baixa e erguia-se ligeiramente
no fim: Quartel-general da Polícia? Harry sentiu os pêlos do pescoço
erguerem-se.
– Agora – disse Beate.
– Certo. – Trond assentiu como se algo se tivesse encaixado e voltou a
sorrir. – Claro. – Dirigiu-se ao banco onde duas raquetes de ténis espreitavam
sob um casaco cinzento. Os ténis brancos arrastaram-se.
– Enlouqueceu – sussurrou Beate. – Vou algemá-lo.
– Não... – Harry ia começar a falar e agarrou-lhe o braço, mas ela já
empurrara a porta e entrara. O tempo expandiu-se, inchou como um airbag e
apanhou Harry, imobilizando-o. Através da vedação de arame viu Beate a
tirar as algemas que tinha presas ao cinto. Ouviu o som dos sapatos de Trond