Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

no chão. Passos pequenos. Como os de um astronauta. A mão de Harry
moveu-se automaticamente para a pistola no coldre do ombro, debaixo do
casaco.


– Grette, lamento... – foi tudo o que Beate conseguiu dizer antes de Trond
chegar junto do banco e enfiar a mão debaixo do casaco. Agora o tempo
começara a respirar, encolhia-se e expandia-se num único movimento. Harry
sentiu a mão a fechar-se à volta da coronha da arma, sabendo que existia uma
eternidade entre aquele segundo e o retirar da arma, carregá-la, soltar o travão
de segurança e apontar. Sob o braço levantado de Beate, vislumbrou o reflexo
de um clarão de sol.


– Eu também – disse Trond, ao erguer a AG3 cinzento-aço e verde-azeitona
até ao ombro. Beate recuou um passo. – Minha querida – continuou Trond
suavemente. – Fique quieta, muito quieta se quer continuar viva durante mais
alguns segundos.


– Cometemos um erro – disse Harry, a desviar-se da janela e a dirigir-se aos
detectives reunidos. – Stine Grette não foi morta por Lev mas pelo próprio
marido, Trond Grette.


A conversa entre o superintendente-chefe e Ivarsson parou, Møller
endireitou-se na cadeira, Halvorsen esqueceu-se de tirar notas e até o rosto de
Weber perdeu a expressão letárgica.


Acabou por ser Møller a quebrar o silêncio.
– O contabilista?
Harry assentiu para os rostos descrentes.
– Não é possível – disse Weber. – Temos o vídeo da loja de conveniência, e
temos a impressão digital na garrafa de Coca-Cola. Não existem dúvidas de
que Lev Grette foi o assassino.


– Temos a carta de suicídio – disse Ivarsson.
– E a não ser que eu esteja muito enganado, o assaltante foi identificado
como Lev Grette pelo próprio Raskol – disse o superintendente.


– O caso parece encerrado – disse Møller.
– Deixem-me explicar – disse Harry.
– Sim, gostaríamos que o fizesse – disse o superintendente-chefe.
As nuvens eram agora mais velozes e navegavam sobre o Hospital Aker,
como uma armada negra.

Free download pdf