– E o que é que chamas àquilo que tens estado a fazer até agora?
– Quando Lev chegou a Oslo, Trond entrou em contacto com ele. Disse que
eram irmãos e adultos, por isso deviam poder falar das coisas. Lev sentiu-se
aliviado e feliz. Mas não se mostrou pela cidade, era demasiado arriscado, por
isso combinaram encontrar-se em Disengrenda enquanto Stine estava a
trabalhar. Lev foi ter com Trond e foi bem recebido por ele. Este disse-lhe que
a princípio ficara triste, mas que agora já o tinha ultrapassado e sentia-se feliz
por eles. Abriu uma garrafa de Coca-Cola para cada um, beberam e falaram
acerca de assuntos práticos. Trond tem o endereço secreto de Lev em
d’Ajuda, por isso pode reencaminhar o correio, pagamentos e outras coisas
para Stine. Lev não se apercebe de que acabara de dar ao irmão os
pormenores finais de que ele necessita para implementar o plano que Trond
iniciou quando esteve em São Paulo.
Harry viu Weber a assentir lentamente.
– Sexta de manhã. Dia D. De tarde, Stine vai apanhar um avião para
Londres com Lev e partirão daí para o Brasil na manhã seguinte. A viagem foi
reservada através da Brastour. As malas estão feitas e prontas em casa, mas
ela e Trond vão trabalhar como habitualmente. Às duas, Trond sai do
emprego e vai até ao Focus em Sporveisgata. Chega, paga o court de squash
que marcou, mas diz que não consegue encontrar um parceiro. Esse é o
primeiro álibi: um pagamento registado às 14h34. Depois diz que em vez
disso vai treinar um pouco para a sala de fitness , e dirige-se ao vestiário. A
essa hora, há muitas pessoas a entrarem e a saírem. Fecha-se na casa de banho
com o saco desportivo, veste o fato-macaco e qualquer coisa por cima, talvez
um sobretudo, espera até ter a certeza de que as pessoas que o viram entrar
para a casa de banho se tenham ido embora, põe os óculos escuros, pega no
saco, e passa rápida e despercebidamente pelo vestiário e recepção. Imagino
que tenha seguido pela Stenspark e depois subiu a Pilestredet, até um prédio
em construção onde saem às três. Esgueira-se para o interior, despe o casaco,
enfia uma balaclava dobrada que escondeu debaixo do boné. Depois sobe a
encosta e vira à esquerda na Industrigata. No cruzamento da Bogstadveien,
entra na loja de conveniência. Estivera ali algumas semanas antes para
verificar o ângulo das câmaras. E o contentor que alugou encontra-se em
posição. O cenário está preparado para os diligentes agentes da polícia que ele
obviamente sabe irão verificar todas as imagens de vídeo das lojas e estações
de serviço das vizinhanças. Assim, monta este pequeno espectáculo para nós:
não lhe vemos o rosto, mas vemos muito claramente a garrafa de Coca-Cola
que segura na mão nua e da qual está a beber. Enfia-a num saco de plástico,
por isso estamos todos convencidos de que as impressões digitais não ficaram