abrirem os presentes e Oleg desembrulhou um presente enorme que dizia «De
Olav para Oleg». Eram as obras de Júlio Verne. De boca escancarada, Oleg
folheou um dos livros.
– Foi ele que escreveu o livro acerca do foguetão que foi à Lua, que Harry
te leu – disse Rakel.
– Estas são as ilustrações originais – disse Harry, a apontar para um
desenho do capitão Nemo de pé junto à bandeira no Pólo Sul. Leu em voz
alta: – «Adeus. O meu novo império começa com seis meses de escuridão.»
– Estes livros estavam na estante do meu pai – disse Olav, tão entusiasmado
quanto Oleg.
– Isso não interessa! – explodiu Oleg.
Olav recebeu um abraço de agradecimento acompanhado por um sorriso
tímido, mas afectuoso.
Depois de se terem ido deitar e Rakel estar a dormir, Harry levantou-se e foi
até à janela. Pensou em todas as pessoas que já não se encontravam ali: a mãe,
Birgitta, o pai de Rakel, Ellen e Anna. E naquelas que estavam. Øystein em
Oppsal a quem Harry oferecera uns sapatos novos no Natal, Raskol em
Botsen, e as duas mulheres também em Oppsal que tinham sido tão amáveis e
convidado Halvorsen para um jantar de Natal tardio, já que ele estava de
serviço e naquele ano não podia ir a Steinkjer.
Acontecera algo naquela noite, não tinha bem a certeza o quê, mas algo
mudara. Ficou a olhar para as luzes da cidade antes de se aperceber que
deixara de nevar. Rastos. Aqueles que naquela noite caminhassem ao longo
do Akerselva iriam deixar rastos.
– O teu desejo realizou-se? – sussurrou Rakel quando ele se voltou a deitar.
– Desejo? – Envolveu-a nos braços.
– Parecia que estavas a pedir um desejo junto à janela. Qual era?
– Tenho tudo o que poderia desejar – disse Harry, e beijou-a na testa.
– Conta-me – murmurou ela, a encostar-se melhor contra ele. – Diz-me qual
é o teu desejo, Harry.
– Queres mesmo saber?
– Sim. – Aconchegou-se mais a ele.
Harry fechou os olhos e o filme começou a passar, tão lentamente que
conseguia ver cada uma das imagens como se fosse uma fotografia. Rastos na