- Fusiform gyrus.
– Microsoft? Apple Mac?
Harry bateu com o indicador na testa reluzente e vermelha. - Software comum a todos. Encontra-se no lobo temporal do cérebro e a sua
única função é reconhecer pessoas. Só faz isso. É a parte que nos faz ter a
certeza de que conseguimos distinguir entre centenas e milhares de rostos
humanos, mas apenas uma dúzia de rinocerontes.
– Rinocerontes?
Harry semicerrou os olhos e tentou pestanejar, para afastar o suor que lhe
picava os olhos.
– Isso foi um exemplo, Halvorsen, mas não há dúvida de que Beate Lønn é
um caso especial. O fusiform dela é capaz de mais alguns truques que, por
assim dizer, fazem com que ela se recorde de todos os rostos que já viu na
vida. E não me estou apenas a referir a pessoas que ela conhece ou com quem
falou, mas rostos atrás de óculos escuros por quem passou numa rua povoada
há quinze anos.
– Estás a gozar.
– Não. – Harry baixou a cabeça enquanto recuperava o fôlego suficiente
para continuar. – Há apenas cerca de cem casos conhecidos como o dela.
Didrik Gudmundson disse que ela fez um teste no Instituto da Polícia e bateu
vários programas de identificação bem conhecidos. A mulher é um arquivo
andante de rostos. Se ela te perguntar Não o vi nalgum lugar? , podes acreditar
que não é apenas uma deixa de engate.
– Céus. O que é que ela está a fazer na polícia? Quero dizer, com um talento
desses.
Harry encolheu os ombros.
– Lembras-te do agente que foi abatido durante o assalto a um banco em
Ryen, nos anos oitenta?
– Foi antes do meu tempo.
– Ele estava perto do local quando a chamada chegou, foi o primeiro a
chegar à cena do crime e entrou no banco para negociar, desarmado. Foi
abatido por uma rajada de metralhadora e os assaltantes nunca foram
apanhados. Foi mais tarde utilizado pelo Instituto da Polícia como um
exemplo daquilo que não se deve fazer quando se surpreendem assaltantes de
bancos.