Uma gota de suor rolou pelo nariz de Harry, agarrou-se por um momento à
ponta, depois caiu em cima da toalha. Aune estudou a mancha húmida com
espanto.
– Termóstato lento – disse Harry. – Estive no ginásio.
Aune levantou o nariz.
– Como um homem de ciência, presumo que te deva aplaudir, mas como
filósofo questiono-me quanto a fazeres passar o teu corpo por esse tipo de
dissabor.
Uma cafeteira de aço inoxidável e uma caneca aterraram em frente de
Harry.
– Obrigado, Maja.
– Ferroadas de culpa – disse Aune. – Algumas pessoas apenas conseguem
lidar com isso se se castigarem. Como quando te vais abaixo, Harry. No teu
caso, o álcool não é o refúgio mas o modo derradeiro de te castigares.
– Obrigado. Já me fizeste esse diagnóstico.
– É por isso que treinas tanto? Consciência pesada?
Harry encolheu os ombros.
Aune baixou a voz.
– Continuas a pensar em Ellen?
Os olhos de Harry ergueram-se e encontraram os de Aune. Levou
lentamente a caneca de café aos lábios, e deu uma longa golada antes de a
voltar a pousar com um esgar.
– Não, não é o caso de Ellen Gjelten. Não estamos a chegar a lado nenhum,
mas não é porque tenhamos feito um mau trabalho. Disso tenho eu a certeza.
Alguma coisa irá aparecer. Temos apenas de esperar.
– Óptimo – disse Aune. – A culpa não é tua por terem assassinado Ellen.
Mantém-te consciente disso. E não te esqueças. Todos os teus colegas acham
que o homem certo foi apanhado.
– Talvez sim, talvez não. Ele está morto e não pode responder.
– Não deixes que isso se transforme numa ideia fixa, Harry. – Aune enfiou
dois dedos no bolso do casaco de tweed , tirou um relógio de bolso de prata e
lançou-lhe um olhar rápido. – Mas não imagino que me quisesses falar acerca
de culpa.