sequer pelas mais extremas influências externas, e transformam-se em robôs
vivos. O facto é que esse é o sonho erótico de todos os generais, e é
assustadoramente fácil desde que se conheçam as técnicas necessárias.
– Estás a falar de hipnose?
– Gosto de lhe chamar pré-programação. Tem uma sonoridade menos
mistificadora. É uma questão de abrir e fechar rotas para impulsos. Se fores
inteligente, podes facilmente pré-programares-te, fazeres a assim chamada
auto-hipnose. Se Raskol se tivesse pré-programado para me matar se eu não
cedesse, teria evitado mudar de ideias.
– Mas não te matou, pois não?
– Todos os programas têm um botão de fuga, uma password que nos faz
sair do transe. Naquele caso, pode ter sido derrubar o rei branco.
– Hm. Fascinante.
– E agora cheguei à questão...
– Acho que sei qual é – disse Harry. – O assaltante na minha fotografia
pode ter-se pré-programado para abater alguém, se o gerente não mantivesse o
limite de tempo.
– As regras de pré-programação têm de ser simples – disse Aune, deixando
cair a cigarrilha na caneca e colocando o pires por cima. – De modo a poderes
cair num transe elas têm de formar um sistema fechado, rápido mas lógico,
que rejeite quaisquer outros pensamentos.
Harry colocou uma nota de cinquenta kroner ao lado da caneca de café e
levantou-se. Aune olhou-o em silêncio, enquanto Harry reunia as fotografias
antes de dizer:
– Não acreditas numa única palavra do que eu disse, pois não?
– Não.
Aune levantou-se e abotoou o casaco.
– Então, em que é que acreditas?
– Acredito naquilo que a experiência me ensinou – disse Harry. – Que, de
um modo geral, os vilãos são tão estúpidos como eu, preferem opções fáceis e
têm motivos pouco complicados. Em poucas palavras, que muitas vezes as
coisas são aquilo que parecem ser. Eu apostaria que este assaltante ou estava
fora de si ou em pânico. Aquilo que fez não teve qualquer sentido, e daí
concluo que ele era estúpido. Olha para o cigano que consideras ser muito