vários anos que não se movia nem um metro. Ele lera qualquer coisa a
respeito da comichão dos sete anos, e como é vulgar as pessoas começaram a
ansiar por um sítio novo onde viver. Ou um novo emprego. Ou um novo
companheiro. Ele não reparara em nada, e tinha o mesmo emprego há quase
dez anos. Harry olhou para o relógio. Oito horas, dissera Anna.
No que se referia a companheiras, as suas relações nunca tinham durado
tempo suficiente para ele testar aquela última teoria. Para além das duas que
poderiam ter durado esse período de tempo, os romances de Harry tinham
terminado devido àquilo a que ele chamava a comichão das seis semanas. Se
a sua relutância em se envolver era devida ao facto de ter sido recompensado
com tragédias das duas vezes em que amara uma mulher, ele não o sabia. Ou
poderiam os seus dois amores constantes – as investigações de homicídios e o
álcool – ser culpabilizados? De qualquer maneira, antes de conhecer Rakel há
dois anos, começara a acreditar que não fora talhado para relações
prolongadas. Pensou na cama larga e fresca dela, em Holmenkollen. Nas
resmungadelas codificadas que trocavam à mesa do pequeno-almoço. O
desenho de Oleg na porta do frigorífico, três pessoas de mãos dadas, uma
delas uma figura enorme, tão alta como o sol amarelo no céu azul-claro, com
HARY escrito por baixo.
Harry levantou-se, encontrou o pedaço de papel com o número de telefone
ao lado do gravador de mensagens e marcou o número no telemóvel. Tocou
quatro vezes antes de alguém o atender.
– Olá, Harry.
– Olá. Como é que soubeste que era eu?
Uma gargalhada baixa e profunda.
– Por onde é que andaste durante estes últimos anos, Harry?
– Por aqui. E por ali. Porquê? Voltei a dizer alguma coisa estúpida?
Ela riu-se mais alto.
– Ah, estás a ver o meu número no visor. Que estúpido.
Harry conseguia ouvir como soava patético, mas não interessava. O mais
importante era dizer aquilo que tinha a dizer e desligar. Fim da história.
– Ouve, Anna, acerca do nosso encontro desta noite...
– Não sejas infantil, Harry!
– Infantil?