Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

– Não – respondeu Harry, a soltar fumo pelas narinas. Uma rajada de vento
dispersou o fumo. Mas o nevoeiro na sua cabeça recusava-se a partir.


Halvorsen ergueu os olhos da Silvia, quando a porta se abriu.
– Podes arranjar-me um expresso de altas octanas? – disse Harry, ao deixar-
se cair na cadeira do seu gabinete.


– Bom dia para ti também – disse Halvorsen. – Estás com um aspecto
terrível.


Harry apertou o rosto entre as mãos.
– Não me lembro rigorosamente de nada do que aconteceu ontem à noite.
Não faço a mínima ideia do que bebi, mas nunca mais deixarei que uma gota
dessa coisa me passe pelos lábios.


Espreitou por entre os dedos, e viu que a testa do colega estava franzida por
profunda expressão de preocupação.


– Descontrai, Halvorsen, foi apenas uma daquelas coisas. Agora estou tão
sóbrio como esta secretária.


– O que é que aconteceu?
Harry soltou uma gargalhada oca.
– O conteúdo do estômago sugere que jantei com uma velha amiga. Liguei-
lhe várias vezes para o confirmar, mas ela não atende.


– Ela?
– Sim, ela.
– Então, não és um polícia muito esperto, hã? – disse Halvorsen num tom
circunspecto.


– Tu concentra-te no café – resmungou Harry. – Uma velha paixoneta, só
isso. Bastante inocente.


– Como é que sabes que não te lembras de nada?
Harry esfregou com a palma da mão o queixo por barbear, a reflectir no que
Aune dissera acerca das drogas apenas aumentarem tendências latentes. Ele
não sabia se achara aquilo reconfortante. Pormenores isolados começavam a
emergir. Um vestido preto. Anna usara um vestido preto. E ele estava deitado
nas escadas. E uma mulher ajudara-o a levantar-se. Com metade do rosto.
Como um dos quadros de Anna.


–   Tenho   sempre blackouts –  disse   Harry.  –   Este    não é   pior    do  que qualquer
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