Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

– Tu levantas-te às cinco da manhã, Ali. Não sei o que indivíduos como tu
querem dizer com «a meio da noite».


– Às onze e meia. No mínimo.
Harry prometeu que isso nunca voltaria a acontecer. Ali continuava a
assentir da maneira que as pessoas o fazem quando estão a ouvir histórias que
conhecem de cor. Harry perguntou como lhe poderia agradecer, e Ali
respondeu que Harry lhe poderia alugar a cave que não usava. Harry disse que
iria pensar melhor no assunto e pagou a Ali o dinheiro do táxi, uma garrafa de
Coca-Cola, e uma embalagem de massa com almôndegas.


– Então estamos quites – disse Harry.
Ali sacudiu a cabeça.
– Juros quadrimestrais – disse o presidente, tesoureiro e Sr. Faz-tudo do
Comité da Cooperativa Habitacional.


– Oh, merda, tinha-me esquecido.
– Eriksen. – Ali sorriu.
– Quem é esse?
– Alguém de quem recebi uma carta no Verão passado. Ele pediu-me para
enviar o número de conta de modo a poder pagar o que ficou a dever entre
Maio e Junho de 1972. Descobriu que era por esse motivo que não conseguira
dormir durante os últimos trinta anos. Respondi-lhe que ninguém no prédio se
lembrava dele, por isso não precisava de pagar. – Ali apontou para Harry. –
Mas contigo não vou fazer isso.


Harry levantou os braços em sinal de rendição.
– Amanhã transfiro o dinheiro.
A primeira coisa que Harry fez quando se encontrou no apartamento foi
voltar a ligar a Anna. O mesmo ex-locutor tal como da vez anterior. Mal
esvaziara o saco de massa e almôndegas na frigideira, quando ouviu o
telefone a tocar acima do som crepitante da gordura. Correu até ao vestíbulo e
agarrou o auscultador.


– Olá! – gritou.
– Olá – disse uma voz feminina familiar na outra extremidade da linha, num
tom um pouco surpreendido.


–   Oh, és  tu.
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