um bocado nervoso, por isso tive de fazer alguma coisa.
– Então, a falecida tem agora um termóstato totalmente funcional?
– Er... ah ah... sim.
Harry tentou desviar-se da cama, mas os pés não lhe obedeciam. O médico
fechara os olhos de Anna e agora ela parecia estar a dormir. Tom Waaler
mandara o electricista para casa e dissera-lhe para se manter disponível
durante os próximos dias. Também mandara sair o agente uniformizado que
respondera à chamada. Harry nunca teria acreditado que se pudesse sentir
daquela maneira, mas, de facto, estava satisfeito por Waaler estar ali. Sem a
presença experiente do colega, não teria conseguido fazer nem uma pergunta
inteligente, e teria tomado decisões ainda menos inteligentes.
Waaler perguntou ao médico se ele lhes podia dar algumas opiniões
temporárias.
– É óbvio que a bala lhe atravessou a cabeça, destruiu o cérebro e assim
fechou todas as funções vitais do corpo. Partindo do princípio de que a
temperatura ambiente era constante, a temperatura do corpo sugere que ela
está morta há, pelo menos, dezasseis horas. Não há sinais de violência. Não
há marcas de injecções nem indícios externos de utilização de medicamentos.
No entanto... – O médico interrompeu-se para causar mais efeito. – As
cicatrizes nos pulsos sugerem que ela já tinha tentado isto. Um cálculo
puramente especulativo mas parece-me que ela era maníaco-depressiva, ou
apenas depressiva e suicida. Não me importo de apostar que iremos encontrar
um dossiê psicológico a respeito dela.
Harry tentou dizer alguma coisa, mas a língua também não lhe obedecia.
– Terei mais informações quanto tiver feito um exame mais detalhado.
– Obrigado, doutor. Tens alguma coisa para nos dizer, Weber?
– A arma é uma Beretta M92F, uma arma muitíssimo invulgar. Só
conseguimos encontrar um conjunto de impressões digitais na coronha, e é
óbvio que são dela. A bala ficou alojada num dos lados da cabeceira da cama
e corresponde à arma, por isso o relatório de balística vai mostrar que foi
disparada por esta pistola. Amanhã terás um relatório completo.
– Excelente, Weber. Mais uma coisa. A porta estava trancada quando o
electricista chegou. Reparei que a porta tinha uma fechadura normal e não um
trinco, por isso ninguém pode ter aqui estado e saído do apartamento a não ser
que tivesse a chave da falecida e tivesse, é claro, trancado a porta ao sair. Por
outras palavras, se encontrarmos a chave dela, podemos fechar este caso.