– Ok.
– Certo, e mais uma coisa. Não fiques surpreendido se encontrares o meu
telemóvel. Acho que o deixei aqui ontem à tarde.
– Pensei que disseste que o tinhas perdido no dia anterior.
– Voltei a encontrá-lo. E a perdê-lo. Sabes...
Halvorsen sacudiu a cabeça. Harry conduziu Aune pelo corredor em
direcção às salas de estar.
– Pedi-te para vires até aqui porque és a única pessoa que conheço que
pinta.
– Infelizmente, isso é um pouco exagerado. – Aune ainda estava sem fôlego
depois de ter subido as escadas.
– Pode ser, mas sabes um pouco acerca de arte, por isso espero que
percebas um pouco disto.
Harry abriu as portas deslizantes da sala mais afastada, acendeu a luz e
apontou. Em vez de olhar para os três quadros, Aune respirou fundo e dirigiu-
se directamente para o candeeiro de três lâmpadas. Tirou os óculos do bolso
interior do casaco de tweed , inclinou-se para a frente e leu o plinto pesado.
– Céus! – exclamou com entusiasmo. – Um Grimmer genuíno.
– Grimmer?
– Bertol Grimmer. Um designer alemão de fama mundial. Desenhou, entre
outras coisas, o monumento de vitória que Hitler ergueu em Paris em 1941.
Podia ter sido um dos maiores artistas do seu tempo, mas no auge da sua
carreira descobriu-se que tinha três partes de sangue romeno. Foi enviado
para um campo de concentração, e o seu nome foi apagado de vários edifícios
e obras de arte nas quais trabalhara. Grimmer sobreviveu, mas as suas mãos
tinham ficado despedaçadas na pedreira onde os ciganos trabalhavam.
Continuou com os seus trabalhos depois da guerra, embora nunca tenha
conseguido atingir as mesmas alturas magníficas devido aos seus ferimentos.
No entanto, eu diria que este candeeiro deve ser dos seus anos pós-guerra. –
Aune tirou o abajur.
Harry tossiu.
– Na verdade, estava mais a pensar nos quadros.
– Amadores – resmungou Aune. – Farias melhor se te concentrasses nesta
elegante estátua feminina. A deusa Nemésis, o tema favorito de Bertol