analisar as imagens de vídeo, mas as tuas interpretações inconscientes daquilo
que viste. Confia em mim, essa é a pista mais importante que um detective
pode ter.
Beate olhou para ele. Harry estava consciente de que a estava a tentar
ensinar a sair de si mesma.
– Vamos! – incitou-a. – O que é que conduz o Executor?
– Emoções.
– Que tipo de emoções?
– Emoções fortes.
– Que tipo de emoções fortes, Beate?
Ela fechou os olhos.
– Amor ou ódio. Ódio. Não, amor. Não sei.
– Porque é que ele a mata?
– Porque ele... não.
– Vamos. Porque é que ele a mata? – Harry puxara a cadeira para mais perto
da dela.
– Porque tem de o fazer. Porque foi predeterminado.
– Excelente! Porque é que foi predeterminado?
Ouviu-se uma pancada na porta.
Harry teria preferido que Fritz Bjelke do Instituto dos Surdos-Mudos não
tivesse pedalado tão velozmente pela cidade para os ajudar, mas agora ele
encontrava-se na soleira da porta – um homem amável e rotundo de óculos
redondos, e um capacete de ciclista cor-de-rosa. Bjelke não era surdo, e
definitivamente não era mudo. De modo a que conseguisse ler o máximo
possível da posição dos lábios de Stine Grette, passaram a primeira parte da
cassete vídeo onde podiam ouvir aquilo que ela dizia. Enquanto a cassete
passava, Bjelke falava sem parar.
– Sou um especialista, mas na verdade todos nós lemos lábios apesar de
ouvirmos aquilo que as pessoas dizem. É por isso que é uma sensação tão
desconfortável quando os filmes dobrados ficam a milionésimos de segundo
das vozes.
– Verdade – disse Harry. – Quanto a mim, não consigo ler nada da posição
de lábios dela.