– O problema é que apenas trinta ou quarenta por cento de todas as palavras
podem ser lidas directamente dos lábios. Para compreendermos o resto temos
de estudar o rosto e a linguagem corporal, e usar os nossos próprios instintos
linguísticos e lógica para introduzir as palavras em falta. Pensar é tão
importante como ver.
– Ela começa a sussurrar agora – disse Beate.
Bjelke calou-se de imediato e concentrou-se intensamente nos movimentos
minimalistas dos lábios no ecrã. Beate parou a gravação antes de o tiro ser
disparado.
– Certo – disse Bjelke. – Mais uma vez.
E a seguir:
– Mais.
Depois:
– Mais uma vez, por favor.
Passadas sete vezes, assentiu em sinal de que já vira o suficiente.
– Não compreendo o que ela quer dizer – disse Bjelke. Harry e Beate
trocaram um olhar. – Mas acho que sei aquilo que diz.
Beate quase corria pelo corredor para se manter a par de Harry.
– Ele é considerado como o maior especialista do país na sua área – disse.
– Isso não ajuda – disse Harry. – Ele mesmo disse que não tinha a certeza.
– Mas, e se ela disse aquilo que Bjelke achou que ela disse?
– Não faz qualquer sentido. Ele deve ter perdido uma negativa.
– Não concordo.
Harry parou e Beate quase chocou contra ele. Com uma expressão
alarmada, olhou para um olho escancarado.
– Óptimo – disse ele.
Beate estava perplexa.
– O que é que queres dizer?
– Discordar é bom. Discordar significa que viste ou compreendeste algo,
apesar de não teres bem a certeza do que é. E há uma coisa que eu não
compreendi. – Harry recomeçou a andar. – Vamos partir do princípio que tens
razão. Depois podemos considerar onde é que isso nos leva. – Parou em frente