Tomo Djebril,^3 o Incomparável, como testemunha fiel do que vou
contar.
Certa manhã, o poderoso Al-Mutasim (Que Alá o tenha entre os
eleitos!), mandou viesse à sua presença o vizir Yasbek Naífe.
Direi que esse vizir ou ministro do califa era homem de meia-idade,
sensato e cauteloso. Por ser culto e viajado, desempenhava, na corte, as
árduas e honrosas funções de conselheiro do rei. E mais ainda. Sempre que
se fazia necessário, servia, também, com inexcedível eficiência, de intérprete
durante as audiências com embaixadores da Pérsia, da Índia ou da China.
Atendendo ao chamado do califa, chegou o prestimoso Yasbek Naífe ao
divã real. E houve, então, entre o emir dos árabes e seu digno auxiliar um
diálogo que vou tentar reproduzir.
Califa — Sinto-me, meu caro vizir, intrigado com algo que ocorre neste
palácio, e desejo amplo esclarecimento e minuciosas informações a respeito.
Vizir — De que se trata, ó príncipe dos crentes?
Califa — Eis o que observei: ao romper da manhã, pouco antes da
primeira prece, ouvi cânticos que partiam do fundo do jardim. Mais tarde,
quando subi ao terraço, outra vez o murmúrio de um hino feriu-me os
ouvidos. Tenho a impressão de que existe por toda parte, na luz do Sol, nas
nuvens que se amontoam na amplidão azul, no rebrilhar dos repuxos e até
nas fisionomias dos servos e escravos, uma espécie de alegria, um ar de festa
e de intenso júbilo. Estarão os bagdalis preparando alguma surpresa para os
caravaneiros da Síria? Pretenderão comemorar algum feito glorioso de
nossos antepassados?
Vizir — Cumpre-me dizer-vos, ó rei do tempo, que os bagdalis não
aguardam hoje as ricas e aparatosas caravanas de Damasco, nem pensam em
festejar as estupendas vitórias dos exércitos do Profeta sobre as hordas dos
hereges e fanáticos. A música que chamou a vossa prestimosa atenção para a
alegria intensa que ela estende por toda a cidade não parte dos muçulmanos,
mas dos cristãos.
Califa — Dos cristãos? Que pretendem esses infiéis com todos esses
cânticos e hinos festivos?