condená-la seria subverter e demolir a lei de Deus. Outro judeu, um certo
Jannai Meir, que pertencia à família dos sacerdotes, proferiu em tom de
desafio: “Qual é a tua sentença, ó rabi?” Respondeu Jesus: “Que se cumpra a
lei!”
Califa — Condenou?
Vizir — Não. Não condenou. Disse apenas: “Que se cumpra a lei.” Mas
acrescentou, com impressionante energia, dirigindo-se aos pérfidos judeus:
“Aquele de vós que se julgar isento de culpa, que atire a primeira pedra!”
Nathan Hazer, que se achava à frente, chefiando o grupo, procurou ler o
que Issã escrevera. A seus olhos surgiu apenas uma palavra: “Fratricida.” O
rosto do miserável acusador cobriu-se de indizível palidez. Ali estava, bem
clara, na areia, a acusação que faria dele, judeu orgulhoso, um ser
abominável. Era, na verdade, um execrável fratricida. Dois anos antes, para
apoderar-se de uma herança, assassinara seu irmão mais moço. O crime
ficara em segredo, e o criminoso, impune. As pedras que Nathan Hazer
trazia nas mãos caíram por terra, e o rancoroso fariseu retirou-se sob o peso
da acusação que o aniquilara. Isaac Hana, ao ver seu amigo Nathan afastar-
se, ficou apreensivo. Procurou ler, também, o que Issã havia escrito. Aos
olhos de Isaac surgiu, em letras bem nítidas, esta gravíssima denúncia:
“Ladrão sacrílego.” E era a expressão da verdade. Recordou-se Isaac de que
roubara, alguns meses antes, as ricas alfaias e vasos de ouro da sinagoga.
Jamais poderia ele, ladrão sacrílego diante do rabi, considerar-se isento de
culpa, livre de pecado. E o miserável acusador, esmagado pela revelação de
sua alma torpe, afastou-se em silêncio. O arrogante Jannai Meir, também
como os outros, lançou os olhos sobre os caracteres que Issã traçara no chão
e leu, cheio de ódio: “Envenenador!” Ali estava estampado, em letras bem
claras, o crime negrejante de sua vida. Jannai envenenara um ancião que o
havia acusado perante o sinédrio. E o sórdido Jannai retirou-se,
disfarçadamente, fugindo para o meio das tendas.
Califa — É espantoso o que acabas de contar, ó vizir! E Issã, filho de
Maria, havia escrito tudo isso? Fratricida, ladrão sacrílego, envenenador?
Vizir — Tenho dúvida em responder. Não sei se deverei responder “sim”
ou “não”. Issã, filho de Maria, havia escrito uma palavra. Uma palavra e nada
mais. Mas, pela vontade de Deus (Exaltado seja o Onipotente!), essa palavra