ao público (xeques e beduínos que se comprimiam na tenda) declarei: “A
jovem Najat, de Djelfa, está livre. Pode escolher, agora, sem o menor
constrangimento, o marido que quiser. Se algum dos presentes for
candidato, e pretender, também, a mão dessa jovem, queira colocar-se ao
lado de Sidi Chahin Hanoun, o segundo marido.” As minhas palavras
causaram forte impressão. Correu pela tenda prolongado sussurro de
espanto. Ninguém poderia admitir ou imaginar que um juiz, em pleno
deserto, promovesse aquele concurso de noivado. Mas, afinal, dois homens
menos irresolutos destacaram-se do grupo e apresentaram-se como
candidatos. O primeiro, já meio pesado no corpo e na idade, era o dono de
grande oficina de ferreiro. Chamava-se Bechara.^27 Não seria exagero dizer
que era obeso e disforme. A sua apresentação, como terceiro pretendente,
foi recebida com risos deleitados. Acercou-se da noiva bamboleando-se nas
pernas. O outro era um belo rapaz, alto, moreno, insinuante, filho de Sidi
Omar Wahid, riquíssimo vendedor de goma de mascar. Ostentava no
pescoço três ordens de ouro.^28 Era antipático, não obstante suas feições
corretas. Foram esses dois os únicos. Vendo que ninguém mais se
apresentava — direi melhor: ousava se apresentar —, deixei o meu lugar de
cádi, entreguei o Alcorão a um dos secretários e fui colocar-me no extremo
da fila, como sendo o quinto e último pretendente. E assim falei: “Que cada
candidato dirija um apelo à noiva. Ela, no fim, decidirá.” Coube ao primeiro
marido, o jovem Hassã Rida, a oportunidade de iniciar aquele singular
torneio sentimental. Erguendo o busto, numa atitude desafiadora, ele disse:
“Querida, não me abandones.” O segundo marido, depois de passar a mão
pela testa, proferiu, com arrebatamento: “Najat, meu amor, não posso viver
sem ti.” O noivo rotundo, sem sentir o ridículo da situação, um pasmo
idiota na face, gaguejou contrafeito: “Prometo, ó formosa Najat, fazer-te
feliz!” O rapaz moreno, erguendo a mão, em cujos dedos cintilavam vários
anéis, formalizou-se, com ostentação de ricaço, naquele concurso oral de
galanteria: “Farei de ti a mulher mais ditosa do mundo.” Cabia-me, afinal, a
vez de falar. Procurei ser simples e sincero, e disse apenas: “Najat, minha
filha, segue, segue os ditames de teu coração!” A jovem meditou durante um
rápido instante. A ansiedade era geral. Qual dos cinco noivos teria a
preferência da ex-esposa dos dois maridos? Afinal, estendendo o braço,
apontou para mim e declarou resoluta: “É a ti, ó justo cádi, que eu escolho
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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