Novas Lendas Orientais

(Carla ScalaEjcveS) #1

Modesto mensageiro, em serviço. — Meu pai...


— Vamos, vamos — insistiu o velhinho madrigaz^9 interrompendo as
minhas explicações. — Estamos perdendo tempo. Dize logo, ó alexandrino,
o teu nome e deixa o resto por minha conta. Não quero mistificações
comigo!


A discussão da janela, com o tal surdo, não me interessava. Cumpria-me
entregar a cesta. Respondi com acentuada ostentação:


— Chamo-me Adibo Daniel Maaruf! Que mais pretende o senhor, com
essa mordente insistência, saber de mim? Quero, eu mesmo, depositar esta
cesta nas mãos da tua ama. É ordem de meu pai.


O velho desapareceu como por encanto. Novo silêncio. Decorridos
alguns instantes, abriu-se a porta central e vi aparecer, novamente, o mesmo
ancião calvo que pouco antes me interrogara da janela.


— Então, ó jovem muçulmano! — ordenou secamente. — Entra, Lala
Nurenahar^10 vai receber-te no mesmo instante.


Guiado pelo velhote, cruzei rico vestíbulo (todo atapetado), atravessei o
pátio, adornado com ricas albarradas de vários feitios,^11 as paredes enramadas
de trepadeiras, e fui ter a um aposento largo, bastante iluminado, onde se
encontravam dois homens (com trajes bem estranhos) e uma senhora,
bastante moça, de rosto descoberto.^12 Ali se achava, recostada em amplos
coxins de veludo, a infiel Nurenahar, a quem meu pai se referia com tanta
reserva. Observei-a com a desconfiança e a curiosidade palpitante de um
adolescente. Era de uma beleza egípcia fora do comum. A célebre Cleópatra,
apaixonada de César, não seria tão formosa, não revelaria tanta amenidade.
Morena, de um moreno transparente e leve, tinha os olhos castanhos e os
cabelos, ondulados e bem-arrumados, da mesma cor dos olhos. O seu
vestido impecável, em linhas geométricas, de um amarelo suave, com
mangas curtas, magnificava a sua elegância e o seu bom gosto. Largo fio de
ouro repousava em seu colo. Cintilavam anéis, com gemas coloridas, em
seus dedos esguios. Os pezinhos, minúsculos e delicados, de unhas pintadas,
repousavam, desnudos, sobre uma almofada azul de seda.


— Já estávamos à tua espera — disse-me a encantadora infiel,^13
sublinhando as suas palavras com um sorriso transbordante de meiguice.

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