Novas Lendas Orientais

(Carla ScalaEjcveS) #1

esclarecer-te: tenho, agora, o dobro menos a metade da idade que tinhas o
ano passado.


Refleti durante rápidos instantes. Como agir sem melindrar? Como
responder sem revelar?


Lala! — exclamei, muito sério. — A ordem que acabo de ouvir de
teus lábios cai, firme como uma flecha, sobre os meus olhos e sobre o meu
coração.^20 Quer o cálculo da sua idade? Dentro do Livro Sagrado irradia
luz!^21 Direi o total em meses para parecer mais discreto: o dobro de doze
dúzias!^22 Nem mais um dia!


Os estrangeiros entreolharam-se. Eu os havia, certamente, deslumbrado
com aquela inesperada perícia nos cálculos e pela forma original de resolver
o problema.


O homem do braço entalado, depois de proferir algumas frases, em voz
baixa, ao companheiro, encolheu as pernas e ergueu-se lentamente. O
ruivaço, em silêncio, sobrolho carregado, levantou-se também. Percebi que
iam retirar-se.


— Que é isso? — insistiu Nurenahar, em tom preocupado, compondo,
tremulamente, com as mãos finas, os seus longos cabelos. — Hal anton
hhaderin
?^23 Já se vão? Consideram tudo assentado? Não pretendem
interrogar mais este jovem?


Respondeu gravemente o estrangeiro gordo enquanto o outro lhe
ajeitava o turbante:


— Os pontos essenciais, a meu ver, foram atendidos. Essa ideia das doze
dúzias pareceu-me original e excelente. Conhece bem as luzes do Alcorão!
Não podia ser melhor. O mais faremos depois. Vamos deixá-lo, agora, aos
seus cuidados.


E saíram empertigados do aposento. Ouvimos ainda os seus passos lentos
e pesados no pátio das paredes enramadas. Depois voltou tudo ao silêncio.


— Devo ir também? — perguntei a Nurenahar, sob o guante de
tremenda emoção.


— Não, não, de forma alguma — respondeu, apertando-me a mão. —
Preciso falar seriamente contigo. Já sei que és alegre, discreto e corajoso.

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