A tua beleza, fervente e ímpar, converterá qualquer crente de Mafoma! O
teu marido será certamente um xeque! Um xeque bagdali! Que melhor
partido poderá desejar uma jovem siamesa que não aceita a sublime verdade
e não reza pelo Khafihy?^48
No dia seguinte, depois do zohor ,^49 recebemos (entre os mexericos da
vizinhança), a visita da astuciosa e diligente Mabruka , khatbeh^50 de profissão.
Até hoje não vi criatura mais fria e mais impassível na forma de agir. Parecia
uma autêntica africana. O seu carão largo, escuro, envinagrado, cheio de
manchas esbranquiçadas, nada sugeria de atraente. Pelo volume exagerado
do busto, lembrava um tonel. Tinha os lábios grossos e o nariz deformado
por antiga cicatriz.
Durante largo tempo a imodesta khatbeh , fumando ou comendo tâmaras
secas, discutiu animada com tia Rafif. Falou, gesticulou e praguejou. Creio
ter sido eu o tema central daquele memorável debate feminino.
— Não tenha receio — rematou, afinal, a cerzideira de vontades^51 com um
sorriso dissimulado, encenando as complicadas negociações.^52 — Não tenha
o menor receio, Lala Rafif! O filho mais velho do rico vizir Sayad aceitará a
nossa proposta. Dentro de três ou quatro dias (se Alá quiser) essa mouhil ,^53
adoradora de ídolos, estará comprometida. Marcaremos o enlace para o mais
breve possível.
E, precedendo as suas palavras de um largo e ostensivo bocejo, chalaceou
desdenhosa e um tanto desbocada:
— Vamos converter ao Islã^54 esse broto infiel! Nunca mais, em sua vida,
tentará enviscar maridos alheios. Uassalã , Lala!^55
Logo que a antipática khatbeh desapareceu da sala, enchi-me de ânimo e,
com certa cautela, interroguei tia Rafif.
— Que quer dizer enviscar?
A esposa do justo cádi, já reclinada indolentemente sobre largo divã, a
cabeça apoiada na palma da mão esquerda, abanando-se, nervosa, com seu
leque de pavão, respondeu, em tom meio pontificante, alçando um pouco a
voz e com petulante ar de inteligência: