Novas Lendas Orientais

(Carla ScalaEjcveS) #1

vossa procura. Cruzamos mares e areias do deserto. Sabíamos da vossa
partida para Bagdá em companhia do venerável monge de Watt-Chang;^19 em
Bagdá, onde fomos forçados a permanecer durante um ano, tivemos notícia
da fuga de vossa família para Damasco. Deixamos Bagdá e viemos para esta
cidade. Não foi difícil descobrir aqui a residência de Rafif, irmã de Gibran.
Soubemos, então, com certo espanto, de vosso casamento com Elias Sequef,
falcoeiro desmiolado, de reputação bastante duvidosa. A mulher encarregada
de descobrir o vosso paradeiro trouxe-nos a notícia de que Sequef havia
seguido para Alexandria. “E a esposa do falcoeiro! Não a vejo há vários dias.
É bem provável que tenha acompanhado o marido.” De posse dessa
informação, os dois agentes de Sião, Luang-Sa e Hoa-Deng, seguiram para
Alexandria e já se encontram lá.


O relato feito pelo chinês, por mim ouvido como se fosse um sonho,
deixou-me estupefata e trouxe grave confusão ao meu espírito.


Via-me elevada à alta dignidade de princesa em minha terra natal.
Emissários da confiança do rei andavam pelo mundo à minha procura.
Como explicar todo aquele mistério, para mim indecifrável?


O velhinho da bata azul esclareceu, em poucas palavras, o enredo
fantástico da minha vida.


Soube, então, com profunda mágoa, que meu pai, dono de incalculáveis
riquezas, havia falecido em Bangcoc e eu, Nurenahar, fora proclamada
herdeira única de todos os seus bens. O rei do Sião, amigo dileto de meu
pai, levando em conta que minha mãe era filha de uma princesa, elegera-me
princesa da corte e, assim, os meus direitos ficaram garantidos. Fazia-se,
portanto, necessário que eu voltasse a Bangcoc e entrasse na posse da
herança.


Não havia tempo a perder. Nesse mesmo dia conversei longamente com
a dedicada tia Rafif e informei-a da estranha situação em que se achava a
filha de seu irmão Gibran, transformada em princesa de um momento para
outro. A minha viagem para as terras de Misr^20 (considerada pelo justo cádi
como uma tresloucada decisão) seria feita em companhia dos três siameses
que haviam (sob o disfarce de floristas) permanecido em Damasco. Tia Rafif
chorou ao despedir-se de mim! Bondosa e tolerante, e sempre perfumada,
tia Rafif! Queira Alá que ela continue a ser a esposa única do justo cádi!

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