Os fados que presidem a vida fizeram com que fosse tranquila a nossa
viagem de Damasco até Alexandria. Confesso que de Damasco não tenho
saudade alguma. Logo que aqui cheguei (na terra do Egito), entrei em
contato com os ativos emissários do rei do Sião. Luang-Sa e Hoa-Deng (os
dois siameses que neste recinto se achavam quando chegaste) puseram-me
inteiramente a par das condições básicas do meu regresso a Bangcoc. A
rainha Lang-Wian, esposa favorita do rei do Sião, admitia a minha volta, mas
exigia o seguinte:
1º) que eu fosse casada (uma jovem solteira poderia causar desavença
entre os príncipes);
2º) que meu marido fosse jovem, árabe, muçulmano e hábil nas contas
(o Sião é o país dos homens livres. Entre os auxiliares de confiança do rei
deve figurar um muçulmano).
Foi, para mim, fácil, anular o casamento fictício. Uma sentença do cádi
de Alexandria, na presença de três testemunhas, livrou-me para sempre do
falcoeiro sírio. Livre do marido alugado , cumpria-me, portanto, escolher um
noivo que estivesse dentro das condições exigidas.
Procurei a diligente Alcacema,^21 khatbeh muito relacionada, de toda
confiança, e expliquei-lhe a minha delicada e romântica situação.
— Um marido — implorei —, um marido que seja bastante jovem,
árabe, muçulmano e hábil nas contas!
— Por Alá! O teu pedido vem a calhar! — respondeu-me com certo
orgulho profissional a khatbeh . — Conheço um alexandrino, albaleguim^22
adolescente, que serve maravilhosamente, sob medida. Cairá em teus braços
como lében^23 fresco em tua boca, e será como o Salsabil^24 para a tua sede de
vida e de amor. Chama-se Adibo Daniel e é filho de Maaruf, homem
honrado, fruteiro no porto. Adibo Daniel é um belo rapaz, alegre,
trabalhador, forte, inteligente e sem vícios.
— Mas isso é um tesouro, ó khatbeh — exclamei com impetuosa
sinceridade. — É esse o jovem que me convém!
E, inspirada pela vaidade (tão desculpável para o coração feminino),
acrescentei: