CAPÍTULO IV
Adibo Daniel narra sua chegada a Bangcoc, capital do Sião — A chuva
na terra do Thai — O homem dos punhos dourados — Viagem para
Ajarieh — Alegria de Nurenahar — As belezas de Bangcoc. O “arroz”
no palácio do rei — As bailarinas e o contador de histórias.
Recordo-me, com todas as minúcias, da nossa chegada à histórica cidade de
Bangcoc, capital do reino do Sião. Chovia torrencialmente. Ech-chok-têllah!^1
Terra magnífica e prodigiosa! Tudo ali, sob a moldura do deslumbramento,
tinha para mim o sabor da novidade. Como imaginar, neste mundo de Alá
(Exaltado seja o Eterno!),^2 como imaginar chuva assim tão copiosa e
demorada! O céu muito baixo, quase ao alcance de nossa mão, fazia pesar
sobre a terra do Thai^3 sua imensa mortalha de nuvens cor de chumbo. Sob o
olhar de dois ou três mil siameses curiosos, de todas as castas, que nos
aguardavam no porto, acenando e gritando, deixamos o nosso confortável
veleiro e, sempre fustigados pela chuva, patinando na lama e escorregando
na terra suja e pegajosa, transportamo-nos para um pequeno barco, coberto
de couro. No Dilok^4 (era esse, lembro-me bem, o nome do tal barco), no
pequeno e inseguro Dilok , com seus oito remadores laotianos,^5 devíamos
subir o caudaloso Menam até uma povoação chamada Ajesieh,^6 um pouco
ao norte de Bangcoc, para além do último kraal^7 do rei.