e convidou-nos (também em nome de Sua Majestade e sob a inspiração de
Vishun )^14 para um arroz^15 esta noite, no palácio! Será, a seguir, servido o chá
da amizade.
— Com toda essa chuvarada! — estranhei.
— Sim — confirmou minha esposa. — Com toda essa chuvarada. Será
um arroz delicioso. Poderás saborear o nosso chá.
Momentos depois no Dilok , castigados pelo interminável aguaceiro e
batidos pelo vento irritante, iniciamos nossa lenta e penosa viagem pelas
águas barrentas do Menam.
Sentia-me triste e fatigado. Os ombros pesavam-me sobre os ombros.^16 Uma
nostalgia inexplicável afligia-me a alma e agulhava-me o coração. Deixei-me
ficar como ébrio, numa doce lassidão, perto do piloto, deitado num tapete
grosso e ao abrigo da chuva.
Ao esforço cadenciado dos remadores o barco vencia o Menam.
Seguíamos para Ajarieh. Maktub!^17
Envolta numa capa fina (de couro de leopardo) a formosa Nurenahar, na
proa descoberta do barco, enfrentava com soberba alegria o látego do tempo.
Ei-la, novamente, em Bangcoc, sua cidade natal! De pé, chicoteada pelo
vendaval, parecia uma criança a brincar descuidada no pátio de sua casa.
— Adibo, querido! — gritava, num contentamento esfuziante. —
Levanta-te daí! Que preguiça é essa? Vem ver! É um assombro! Estamos na
terra maravilhosa de Thai!^18 Kung-thefa-maha-nakhon...^19
E, apontando para uma sombra vaga, acinzentada, que mal se distinguia
ao longe, sob o véu da chuva, ela explicava:
— Olha ali o soberbo palácio do segundo-rei!^20 Lá estão duas estátuas de
pedra, os vigilantes de Indra.^21 Um pouco acima já se avista o templo da
Torre de Ouro! E a seguir (Repara!), que maravilha, o monumental Watt-
Chang!^22 Amanhã, sob a luz do sol, poderás admirar a Nang Ham, a cidade
das Mulheres Proibidas.^23
E a chuva desabava violenta, cada vez mais forte. Os remadores laotianos,
batendo com força na água, desfiavam uma toada monótona, triste. Em seus
peitos nus percebiam-se tatuagens retorcidas, complicadas. Os ajudantes do