Novas Lendas Orientais

(Carla ScalaEjcveS) #1

piloto (que pelos penteados pareciam siameses), de costas para o vento e
embrulhados em suas capas, mastigavam bétel.


Vencendo a chuva, alheios ao vento, subíamos o Menam, o coração vivo
do Sião.


Ao cair da tarde fomos levados ao palácio do rei. A chuva havia cessado.
O céu, embora ainda coberto de nuvens, ensaiava, sob a proteção do vento,
um tom mais claro e mais ameno. Os sinos dos diversos pagodes repicavam
festivos. Nurenahar, pompeando o seu vestido azul de gala, ostentando
complicado chapéu de dois bicos, parecia uma dançarina chinesa recém-
chegada de Pequim.


Ao som de uma música constante e suave (flautas e tambores), subimos
os sete degraus, transpusemos as colunas de mármore cor-de-rosa e
penetramos no espaçoso e aprazível vestíbulo da residência de Mongkut.
Dez imponentes mandarins, na exuberância de seus trajes dourados,
acorreram ao nosso encontro e proferiram, de acordo com a praxe, os votos
de quietação de espírito, fartura de arroz e saúde infinita.


Deixamos a antecâmara e seguimos para o refinado salão de honra,
ricamente decorado, onde se achavam o rei Mongkut, sua primeira esposa,
Lang-Wian, os ministros da corte (todos vestidos de branco), os sábios
gurus, os mandarins, vários brâmanes e os antipáticos generais, com seus
cintos de couro e suas espadas de prata. O aparatoso recinto era iluminado
por centenas de lâmpadas de bronze que espargiam uma luz amarelada.
Dezenas de servos, com grandes leques, afugentavam os impertinentes
mosquitos.


Acercou-se Nurenahar do trono, saudou a rainha (primeira esposa) e a
seguir beijou a mão do rei. Com ostensiva alegria, o monarca recebeu a nova
princesa. E, para dar uma demonstração pública do alto apreço e de sua
amizade pela recém-chegada, exigiu que ela se sentasse no terceiro degrau da
escada, ao lado da segunda dama da corte.^24


Cumpria-me também saudar o rei, a rainha, a segunda esposa e todos os
nobres daquela aparatosa corte siamesa. Dirigi-me com passos firmes, bem
medidos, até o centro do salão, inclinei ligeiramente o corpo, ergui o braço
direito e declamei o salam clássico dos xeques do deserto:

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