— Que a perfeita alegria brilhe sempre nos olhos de vossos filhos! Que o
sossego faça a sua tenda na soleira de vossa casa! Que em vosso coração
brilhe sempre o nome de Deus!
Sorriu o rei Mongkut ao ouvir aquelas palavras. Embora fosse budista
sincero, considerou-as perfeitas e de rara oportunidade. E, como Sua
Majestade falasse correntemente o árabe, traduziu em voz alta o tríplice
salam dos xeques, a fim de que os mandarins apreciassem (dentro do estilo
árabe) a beleza e a simplicidade dos votos por mim proferidos.
Para evitar a menor sombra de constrangimento, determinou o rei que
um funcionário da corte, o diligente Tin-Key, permanecesse a meu lado.
Conhecendo com bastante segurança o árabe e o siamês, Tin-Key traduzia
discretamente, para mim, as frases e ordens (proferidas em siamês), e,
dentro de uma solicitude tipicamente profissional, esclarecia-me em relação
a certas cerimônias, para mim totalmente incompreensíveis.
O ocupante do trono do Sião era um homem relativamente baixo, muito
pálido, de olhos claros e pouca barba. Tinha os ombros largos e as mãos
grossas. Quando moço devia ter sido muito forte. A sua voz era clara e
agradável e suas atitudes, discretas e despretensiosas. Não ocultava o seu
desinteresse pelo formalismo que o rodeava.
Lang-Wian, a rainha, primeira esposa, era bem mais baixa e menos
simpática do que o rei. Tinha o ar severo de quem coleciona
descontentamentos e pequeninas amofinações. Trajava um vestido
aparatoso, de mangas curtas, cor de tâmara, todo feito de contas e miçangas
prateadas. Os sapatos eram cravejados de rubis e pérolas. Seus olhos
amendoados luziam sobre os nuns perfeitos de suas sobrancelhas. De
instante em instante, abria-se em bocejos intermináveis. O rosto era
redondo, o nariz, sensivelmente achatado, e os lábios, finos. Quando ria (e
isso acontecia raramente) mostrava duas fileiras de dentes curtos irregulares
e enegrecidos pelo bétel. Fizera-se acompanhar por dez escravas, a mais
velha das quais teria, no máximo, treze anos.
No momento em que eu ia observar a segunda dama da corte, o salão
real foi invadido por vinte bailarinas, graciosas e vivas, que durante meia
hora divertiram os numerosos convidados com os volteios, requebros e
fantasias de sua arte maravilhosa.