CAPÍTULO V
Narrativa surpreendente de um contador de histórias — Uma lenda
budista — História de um gato que virou príncipe — As sete
coincidências sobre o número sete — Como pode uma jovem romântica
livrar-se de um noivo indesejável — O perigo dos recalcados.
Na pequena aldeia de Dang-Rek,^1 no país de Camboja,^2 para além, muito
além das fronteiras do Sião, vivia um modesto criador de abelhas chamado
Dan-Diak. Os dias corriam calmos e felizes para o esforçado Dan-Diak.
Arrastava uma vida modesta, modestíssima, mas isenta de sobressaltos e de
preocupações. Parece oportuno esclarecer (nesta altura da narrativa) que o
apicultor cambojano era casado mas não tinha filhos. Mai-lá-id, sua esposa,
jamais poderia ser apontada como uma criatura vulgar. Longe disso. Sabia
contar até 180;^3 conhecia, pelos respectivos nomes, várias estrelas do céu e
repetia, de cor, os versos do rei-poeta. Orgulhava-se Dan-Diak do talento de
sua esposa. E tinha, para isso, razão de sobra. Mai-lá-id conhecia os artifícios
das quatro contas até 180. Um bonzo, com suas práticas constantes no
templo, seria incapaz dessa proeza.
O excesso de afetividade que borbulhava em sua alma, a bondosa Mai-lá-
id consagrava-o a um belo gato siamês que ela criava com exagerado desvelo