orgulhoso, de cabeça erguida, a mão esquerda apoiada no punho da espada,
pisando firme na areia branca do caminho.
— Ingrato! Miserável! — bradou o mágico, tomado pelo rancor,
apontando para o príncipe que se afastava, alheio a tudo, agitando no ar as
suas plumas vermelhas.
O apicultor e sua companheira choravam.
— Não vos atormenteis — aconselhou com serenidade o mágico. —
Aquele sudra^6 infame terá seu carma!^7 Gato foi, gato é e gato sempre será!
Ora, não muito longe de Dang-Rek, no país de Camboja, existia a cidade
de Luang-Prabang. Para essa cidade, em rica carruagem, dirigiu-se o novo
príncipe Lapa-Uck.
Em Luang-Prabang vivia a formosa Flor-Azul-Celeste, filha do rico
Pakdy, nobre de alto prestígio na corte, dono de cinco elefantes e de vinte
campos de arroz.
Graças ao ouro de sua bolsa e a sua persuasiva lábia, tornou-se Lapa-Uck
figura bastante popular em Luang-Prabang. Convidado, certo dia, para ir ao
Tonlé-Sap, o suntuoso castelo de Pakdy, conheceu a jovem Flor-Azul-
Celeste, e na mesma hora pediu-a em casamento.
O vaidoso Pakdy, plantador de arroz, sentiu-se lisonjeado com o fato de
ter sua filha atraído a simpatia do príncipe Lapa-Uck, figura de alta plana
social. O pedido foi logo aceito e a festa do noivado marcada para o terceiro
dia depois da colheita.
Desesperou-se a jovem Flor-Azul-Celeste ao saber que seu pai havia
concordado com a proposta do príncipe Lapa-Uck.
Flor-Azul tinha um namorado a quem amava apaixonadamente. Jamais
poderia admitir o seu casamento com um estranho, no qual se percebia certo
ar de aventureiro, surgido na cidade de um momento para outro.
Que fazer para fugir ao detestável príncipe Lapa-Uck? Como desviá-lo
dos caminhos e atalhos de sua vida?
Na angústia em que se achava, lembrou-se Flor-Azul de seu tio, o
mágico Li-Nanda, irmão de sua falecida mãe. E foi procurá-lo.