Disse-lhe o mágico:
— Esquece as tuas inquietações, ó delicada Flor-Azul-Celeste! Não há
motivos para lágrimas, nem para aflições. Fizeste bem em procurar o meu
auxílio. Conheço, de longa data, o antipático Lapa-Uck e sei particularidades
de sua vida anterior, em Dang-Rek. Poderei livrar-te desse noivo odioso
acolhido pela ambição e pela vaidade sem limites de teu pai. Basta que sigas
rigorosamente as minhas instruções.
— Que farei? — lamuriou-se Flor-Azul, com voz apagada, convulsa.
— Tudo muito simples — respondeu o sábio, afetando um desdém
tranquilo. — Preciso, porém, preparar-te para o caso. Espera um momento.
Afastou-se o mágico para o interior de sua casa e voltou, momentos
depois, trazendo na mão pequena caixa feita com casca fina de teca.
E fitando, tranquilo, a jovem, assim falou com ar desanuviado, num tom
resoluto e calmo:
— Amanhã, na hora do grande banquete de noivado, oferecerás esta
caixinha ao príncipe e dirás: “Eis o meu presente. Vê se é do teu agrado.” O
príncipe, tomado de natural curiosidade, abrirá logo a caixa. E, nesse
momento, ocorrerá algo de espantoso aos olhos dos convidados e ficarás,
para sempre, livre desse noivo que o teu coração repele!
Flor-Azul guardou a caixinha com o maior cuidado, agradeceu ao tio o
valioso e inesquecível auxílio, e voltou tranquila para o castelo de seu pai.
Na noite seguinte, conforme estava combinado, realizou-se na sala
principal do castelo Tonlé-Sap o suntuoso banquete de noivado. Havia mais
de duzentos convidados presentes. O imenso salão estava ricamente
decorado. Escravos mongólicos, vestidos de azul-escuro, imóveis, de pé, em
redor da grande mesa, sustentavam, com os braços erguidos, imensos
candelabros de ouro. Ricas iguarias haviam sido preparadas pelos mais
hábeis cozinheiros da cidade. Para divertir os nobres e mandarins, o dono do
famoso Tonlé-Sap havia contratado tamborileiros, flautistas e dançarinas
siamesas.
No meio da festa, um bonzo (para atender a um pedido da noiva)
anunciou em voz alta: