— Eu os mandaria degolar! — arrematou muito sério o monarca, dando
à sua frase um tom de inabalável decisão.
Ao ouvir aquelas palavras, de tão alta gravidade para o destino do povo,
cruzei os braços, num movimento irreprimível, e disse com voz pausada e
firme:
— Chamai, então, o vosso carrasco, ó rei do país dos homens livres!
Chamai o vosso carrasco! E já! Pois o primeiro muçulmano a ser degolado
serei eu mesmo!
E, decorrida pequena pausa, proclamei emocionado, com lágrimas nos
olhos:
— Lá ilá ilallah! Mohammed rassoul Allah!^24
Ao ouvir a profissão de fé muçulmana (a reafirmação inabalável de
minha crença) proferida com tanta ênfase e sinceridade, sob a ameaça de
morte, o rei Mongkut inclinou a cabeça para trás e expandiu-se numa
estrepitosa gargalhada, dando socos nos joelhos.
— Muito bem, menino! Muito bem! — declarou, por fim, entre frouxos
de riso, soerguendo-se um pouco e endireitando-se na poltrona. — Nada de
carrasco! Não há verdugos no Sião! Já era de esperar de ti essa nobre atitude.
Kopliai! Kopliai!^25 O Sião continuará a ser, pelo menos enquanto eu viver, o
“país dos homens livres”. Que tenha cada um a sua crença e que viva e
trabalhe em paz e perfeita harmonia com os seus companheiros. Graças ao
estratagema das cinco noivas, tive a prova de que és fiel em teu amor.
Considero-te um esposo exemplar. Essa fantasia absurda da conversão dos
muçulmanos, por ti repelida, pôs em relevo a nobreza de teu caráter, a
firmeza de tua crença. Foste submetido a duas provas e venceste-as
garbosamente, sem o menor deslize. A perfeição do amor só pode ser
medida pelo sacrifício que ele exige. Amor sem sacrifício, sem renúncia, não
é amor!
E acrescentou, transportado de júbilo, acamaradado:
— De hoje em diante ficarás sob a minha proteção. Afirmo e repito,
palavra de rei. Terei mais confiança em ti do que nas ondas amarelas do
caudaloso Menam. Quero-te ao meu lado, menos como um súdito do que