mediana, que tudo ouvira em discreta observação, puxou o jovem Chana
pelo braço e disse-lhe com um risinho importante:
— Fizeste mau negócio, meu amigo. Péssimo negócio. Essa islamita
gorda, com diadema na testa, enganou-te. Viu em ti um novato e resolveu
explorar-te. Não quis intervir na venda para não parecer importuno. As tuas
ervas do Punjab podiam ser vendidas, ainda hoje mesmo, por duas ou três
rupias. Não aqui, mas no suque dos perfumistas, onde os árabes dão bom
preço pelas raízes e plantas aromáticas. Sei que és novo no ofício; toma, pois,
cuidado. E muito cuidado. Quem deseja trabalhar no comércio, precisa
estudar, detidamente, os preços das mercadorias; pesar, com atenção, os
desejos e caprichos dos compradores; consultar o interesse predominante do
momento; informar-se da produção e das mil outras coisas que fazem variar
as cotações, descer ou subir os preços.
Agradeceu Chana os conselhos e advertências do hindu, contou, com
cuidado, os doze anás, um a um, e preparou-se para deixar o mercado.
Precisava ganhar mais quatro anás e completar uma rupia. Uma rupia ganha
com o seu trabalho!
— Vou procurar trabalho fora daqui. O comércio, com suas confusões de
preços, com seus múltiplos problemas, não me interessa.
Ensina; ensina sempre, e estarás aprendendo também.
(“Dhammapada”, cap. III)
Já bem alto ia o Sol quando Chana enveredou pela estrada, tomando o
caminho da aldeia de Korti, onde esperava ganhar, com seu trabalho, o que
faltava para os dezesseis anás.
Sob uma grande figueira, na curva do caminho, avistou um homem de
barba branca, a face lanhada de rugas, que se achava sentado numa pedra,
tendo na mão uma folha cheia de caracteres estranhos.
Chana saudou o ancião e perguntou-lhe, num tom receoso, se precisava
de alguma coisa.
— Sim — resmungou o velho —, estou à espera de alguém que me
ensine a ler esta carta escrita por meu filho.