minutos, voltou-se para o discípulo que o arguira e disse:
— Não me acho, no momento, com ânimo para discorrer sobre esse
problema, cuja delicadeza transcende nossa imaginação. Mas, como não
seria oportuno deixar sem resposta a tua pergunta, vou contar-te uma lenda
do país de Girkka. Queres ouvi-la, meu filho?
— Sim, sim — acudiu pressuroso o jovem, com um sorriso de júbilo e
pueril sinceridade. — Ouviremos com encantamento a tua lenda, ó mestre,
pois as tuas palavras são sempre cheias de preciosos e ternos ensinamentos!
Krishnamurti, o venerável, com voz pausada e firme, em linguagem
desnuda e clara, narrou o seguinte:
Para além do país de Girkka, na Índia, entre escarpadas montanhas, vivia,
há muitos anos, virtuoso anacoreta, grandemente venerado, de nome
Timanak. Os dias desse bom guru, ou melhor, desse santo varão, eram
consagrados à prece e à meditação. Numerosos fiéis, escalando as pedras,
iam, uma vez por semana, visitá-lo na gruta úmida e triste que ele tornara
famosa com sua vida modelar de penitências e sacrifícios. Budistas fanáticos,
vindos de remotos climas, traziam-lhe ricos presentes e cestos com
saborosos manjares.
O santo de Girkka, porém, com palavras admiráveis, recusava os
presentes e devolvia as dádivas mais preciosas. Os acepipes, que faziam as
delícias dos gulosos, não o atraíam. Contentava-se com um punhado de
arroz branco e meia medida de ervilhas secas. Sua vida de expiação era
pautada por extrema abstinência e desprendimento. Cobria a nudez do
corpo magro apenas com uma tanga. Tinha, além disso, outra tanga, que
usava quando se via obrigado a lavar e purificar a primeira.
Ora, esse virtuoso eremita das duas tangas ouviu, certa vez, contar que
vivia em Dakka, a cidade dos 107 templos, o douto Sindagg Nagor, filósofo
de renome, que conhecia a Verdade.
“Vou procurar esse homem”, refletiu o ermitão.“Quero conhecer a
Verdade. Que pretendo, afinal, na vida, senão descobrir a Verdade e desfazer
o Mistério?”
E, deixando a gruta que lhe servia de morada, venceu as ladeirentas
estradas e encaminhou-se para a opulenta cidade de Dakka. Vestia, como