Novas Lendas Orientais

(Carla ScalaEjcveS) #1

sempre, a sua tanga amarelada e trazia no braço esquerdo, como troféu
precioso, a outra tanga — direi assim —, a tanga sobressalente.


Viandantes e peregrinos budistas que o avistavam ao longo dos caminhos
paravam para saudá-lo. Acercavam-se dele e, respeitosos, de joelho na terra,
solicitavam um conselho ou imploravam a bênção.


Chegou, finalmente, Timanak, o piedoso, à fervilhante capital.
Indiferente aos homens que se acotovelavam pelas praças e aos ricos
mercadores que cruzavam as ruas com seus utensílios e baixelas, procurou
avistar o brâmane filósofo que desejava conhecer.


Que grande surpresa para o penitente de Girkka! O sábio,
deslumbramento da fé budista, mestre entre os mestres, não residia numa
choupana, nem se escondia entre pedras. Habitava, ao contrário, suntuoso
palácio, junto a um lago em que se espanejavam soberbos cisnes brancos.
Levado por um guia, entrou o penitente na senhoril mansão. Pelo chão, que
os pés mortificados de Timanak pisavam, estendiam-se tapetes riquíssimos;
viam-se, pelos cantos, ou junto às colunas de mármore, jarros desbordantes
de flores; oscilavam do teto, presos por correntes de prata, pesados
candelabros de cristal. Tudo ali faiscava majestosa beleza e otimismo.


— Que desejas de mim, meu irmão? — indagou o sábio Sindagg Nagor,
acolhendo bondoso o desnudo visitante. — Em que poderei servir-te?


Falava com tranquila segurança. Tinha a pele clara e era cheio, pesado,
grisalho.


Esmagado pela pompa, ofuscado pelo luxo que o rodeava, sentiu-se o
eremita confuso e perturbado. Dominou-se e disse com não pequeno
embaraço, tentando um sorriso irônico:


— A fama do vosso incomparável saber chegou até a gruta obscura em
que sempre vivi. Deliberei abandonar o meu refúgio e vim até aqui, desejoso
de ouvir os vossos ensinamentos. Sinto-me, porém, constrangido. Como
permanecer no meio de tanta riqueza? Aqueles que vivem em vossa
companhia, e que residem neste magnífico palácio, envergam trajes
soberbos, ao passo que eu resguardo a nudez de meu corpo, roído de chagas,
com este pequeno retalho. Além da mísera tanga que visto, tenho apenas
esta outra tanga sobressalente que trago sob o braço. Na seminudez em que

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