vivo, não posso inclinar-me entre os vossos discípulos sem causar escândalo
ou apisoar suscetibilidades.
— Estás profundamente equivocado, meu irmão — tornou o sábio, sem
a menor ostentação e com a maior naturalidade. — Os trajes que cobrem o
corpo não medem o valor do homem. A mim, na verdade, não me interessa
saber se tens duas, três, vinte ou duzentas mil tangas. Que adianta ao
homem vestir-se de sedas e ter a alma nua de virtudes e de predicados?
Interessa-me, tão somente, as roupagens do espírito e não os vestidos e
bordados que cobrem a matéria. Não te preocupes, pois, com os trajes, nem
com o luxo dos que te cercam. Cuida de cultivar a tua alma e enriquecê-la.
Se queres permanecer neste palácio, aqui ficarás com toda a honra e
deferência que mereces. Durante a tua estada conversaremos sobre os
assuntos que mais te interessam. Limitado, bem limitado, é o meu saber,
mas imenso e constante é o meu desejo de servir; tudo farei, portanto, em
teu auxílio. Com os minguados dons de minha inteligência, tentarei
esclarecer as tuas dúvidas e vencer as tuas inquietações e incertezas.
Sequioso por aprender a Verdade, aquiesceu o ermitão ao convite do
sábio e passou a figurar entre os hóspedes de honra do grande palácio.
Longas horas entretinha-se em palestras com o rico filósofo, e desse
brâmane ouvia notáveis e edificantes ensinamentos.
Uma tarde, ao lucilar das primeiras estrelas, como faziam, aliás, quase
todos os dias, partiram os dois amigos — o guru e o filósofo — a passear por
atraente bosque que perto verdejava. Deambulavam sossegados entre as
árvores, por pequeno caminho de bom piso, quando os surpreendeu
estranho ruído. Parecia um bando de elefantes, em marcha, esmagando os
galhos secos sobre um tablado.
Que seria?
A observação e a experiência levam os homens mais depressa à
descoberta da Verdade do que as divagações incertas e as conjeturas vãs.
Sugeriu, pois, o supersapiente hindu ao seu companheiro de Girkka:
— Indaguemos do que se trata. Algo de anormal ocorre na região que
nos cerca.