Com passo normal e certo, sem mostras de impaciência, encaminharam-
se para a estrada. E viram, com indefinível espanto, boquiabertos, um
espetáculo pavoroso. Todo o vetusto palácio do eloquente Sindagg era presa
das chamas. Colunas de fumo, levadas pelo vento, subiam negras para o céu,
e o fogo, na sua faina destruidora, estorcia suas espirais vermelhas,
devorando, como um chacal faminto, a pomposa residência.
Sindagg Nagor, o filósofo, ao perceber a extensão da calamidade, não
teve um gesto de revolta ou desapontamento; cruzou serenamente os braços
e olhou para o céu já avermelhado, não pelo crepúsculo, mas pelos clarões
sinistros do incêndio. Dentro de alguns instantes, todos os seus tesouros
estariam reduzidos a cinzas, ruínas fumegantes e escombros disformes.
O eremita Timanak, porém, não imitou em quietude e sossego a atitude
de seu mestre. Longe disso. Depois de dardejar, em redor, olhares aflitos,
atirou-se ao chão e pôs-se a rolar como um demente e a praguejar como um
pária, com toda a expansão de uma dor represada:
— Que desgraça, senhor! Que desgraça! Tudo perdido!
E lamentava entre uivos e imprecações:
— Tudo perdido!
Ao presenciar o desespero do discípulo, o venerável Sindagg acudiu-o
solícito e procurou erguê-lo do chão. Segurou-o pelo braço e proferiu com
desusada energia:
— Domina-te, meu irmão, domina-te! “Muitos propósitos há no coração
do homem, mas o conselho de Deus permanecerá!” Não te preocupes com
o desastre. Errado procede aquele que se aflige e sofre diante do
irremediável. Recebe com serenidade os decretos inapeláveis do destino. O
palácio que ali vês, presa das chamas, é meu; todas as riquezas — tapetes,
alfaias, móveis e jóias — que nele se achavam eram de minha exclusiva
propriedade. E, como vês, estou absolutamente calmo e indiferente; a perda
dos bens materiais não chega sequer a perturbar, de leve, a serenidade de
meu espírito!
A tais palavras retorquiu, com exasperação e sinistra riqueza, o guru de
Girkka: